10 perguntas para a best seller de romances eróticos Nana Pauvolih. Por Nathalí Macedo

Atualizado em 19 de dezembro de 2015 às 18:18
Abandonou a carreira de professora para virar romancista erótica: Nana Pauvolih
Abandonou a carreira de professora para virar romancista erótica: Nana Pauvolih

Nana Pauvolih é escritora há mais de vinte anos. Carioca de Nilópolis, na Baixada Fluminense, ela escreve desde os onze anos de idade, mas só em 2012 publicou seu primeiro livro, A Coleira, que conta a história de Lorenza, de 17 anos, que se envolve com um homem rico para tentar salvar a empresa da família da falência.

Ainda trabalhando como professora de história, Nana passou a escrever cada vez mais regularmente, até decidir dedicar-se somente à literatura.

Conversamos sobre as vantagens e dificuldades de produzir conteúdo erótico no Brasil. Confira a entrevista na íntegra:

1. Quando começou a escrever contos eróticos e de onde surgiu esse desejo?

R: Comecei a escrever romances aos 11 anos. Sempre amei romances e li meu primeiro romance erótico muito cedo, sem querer. Comecei sem saber do que se tratava e fiquei impressionada. Ainda adolescente comecei a arriscar no erotismo e fui ganhando confiança aos poucos. Foi uma coisa que sempre gostei, me despertava curiosidade e fascinação.

2. Você começou a escrevê-los quando ainda era professora? Como os alunos, os pais e seus colegas lidavam com esse segundo ofício?

R: Comecei a escrever bem antes de ser professora. Quando resolvi compartilhar meus livros na internet, não contei quem eu era. Usei pseudônimo. Nana, que é um apelido meu. E Pauvolih, sobrenome da minha avó. Até que teve uma hora em que eu decidi me dedicar somente à literatura e assumi quem eu era. Nesta época deixei de dar aulas. Várias mães de ex-alunos e também ex-alunas são hoje minhas fãs, compram meus livros, foram na Bienal. Felizmente não tive nenhum problema nesse sentido.

3. Você se sente socialmente condenada por assumir sua profissão? Como se deu este processo?

R: Sim, tem pessoas que não aceitam. Inclusive pessoas próximas. Ainda há preconceito sobre o fato de escrever romances eróticos, como se sexo fosse algo estritamente sigiloso e proibido. No início eu tentei defender meu ponto de vista e me magoei com o preconceito de pessoas queridas. Hoje sei lidar com isso. Se não querem aceitar, tudo bem. Continuo no meu trabalho sem me incomodar e com orgulho do que faço.

4. Qual é a reação do público masculino com relação ao seu trabalho? Você é obrigada a conviver com cantadas e comentários inconvenientes? Como lida com isso?

R: A reação da maioria é exatamente essa. Frases do tipo : “Fico com muito tesão quando leio seus livros”. Isso no mínimo! Uma pequena parte fica curioso, respeita, quer conhecer mais e até agradar às mulheres, lendo o que elas gostam. Mas há assédio sim. Eu simplesmente excluo quando recebo esse tipo de mensagem. Ao vivo eles ficam mais contidos. Mas já recebi cantadas grosseiras e apenas saio de perto com um elegante não. Acho que poderiam ser mais sedutores e menos agressivos.

5. Você acha que seria mais fácil “sobreviver” no mercado erótico se você fosse um homem? Se sim, em que sentido?

R: Acho que a aceitação seria maior, pois as pessoas acham que falar livremente sobre sexo é algo mais para os homens. Mas não tenho o que reclamar. Mesmo com os inconvenientes, tenho visto uma aceitação cada vez maior do meu trabalho e de outras autoras de eróticos.

6- Como surge a inspiração para os seus textos?

R: Isso é um mistério para mim. Minha mente nunca descansa. Nunca mesmo. Qualquer coisa é motivo de inspiração e eu preciso me controlar para não escrever o tempo todo. É uma paixão tão grande que, se eu deixar, me domina completamente. Tenho inspiração para vários livros ao mesmo tempo e preciso arquivá-los na mente para mais tarde desenvolver. Algo que vejo, uma pessoa, uma frase, um cheiro, qualquer coisa pode gerar um livro na minha cabeça.

7. É possível escrever contos eróticos sem se ater à realidade de sua própria vida sexual?

R: É possível sim. Um escritor não precisa viver tudo que escreve para poder fazê-lo. Mas é claro que uso muito da minha experiência própria, de meus desejos e curiosidades, do que penso e anseio. E do que vivi e vivo. Acabo me doando na escrita.

8. Pra você, qual a importância das mulheres no mercado erótico para o empoderamento feminino?

R: É muito importante, pois mostra muitos dos desejos femininos e de sua vontade de dizer o que quer, o que gosta. Muitas leitoras me relatam que ficaram mais livres sexualmente e que a vida com o parceiro melhorou muito depois de ler romances eróticos. Infelizmente nós, mulheres, ainda somos muito cobradas pela sociedade. Ler pode ser uma maneira de liberdade.

9. Você considera que o erotismo produzido por mulheres é diferente daquele produzido por homens? Em que sentido?

R: Sim. Já li muito erotismo feito por homens e a maior diferença é a falta de romantismo. Eles são mais diretos, falam mais de sexo puro. As escritoras, pelo menos a maioria, usa romance aliado ao erotismo. É o que as mulheres gostam de ler e eu, especialmente, gosto de escrever.

10. Há algo que não foi perguntado e que você gostaria de registrar?

R: Apenas meu agradecimento pela entrevista e registrar minha felicidade em poder trabalhar com algo que eu amo tanto, que para mim é tão especial que nem parece trabalho, mas prazer.