28 de abril, o dia de retomar a democracia. Por Carlos Fernandes

Atualizado em 27 de abril de 2017 às 22:09
Enough is enough

Às vésperas de completar um ano em que a presidente legal e legitimamente eleita do Brasil, Dilma Roussef, foi afastada do cargo, o país depara-se com o que poderá entrar para a história como a sua maior greve geral desde o fim da ditadura militar.

Dezenas de movimentos sociais, centrais sindicais e categorias trabalhistas já decretaram estado de greve e a previsão é que o Brasil inteiro pare em protesto contra a entrega internacional do patrimônio público, o aumento do desemprego, a destruição dos direitos trabalhistas e o fim da aposentadoria.

A última vez que fomos palco de uma greve geral dessas proporções foi em 1996, primeiro ano do governo FHC.

Naquela ocasião, vejam só, os trabalhadores foram às ruas contra a política de privatizações, as flexibilizações das leis trabalhistas e… o desemprego.

Inevitável notar a semelhança na conjuntura sócio-político-econômica que faz, transpostas duas décadas, o país reunir as mesmas tristes condições que obrigam uma nação de proporções continentais a gritar, ávida de ser ouvida, em unissonantes vozes.

Nada obstante os obscuros interesses que moveram o processo de impeachment consumado numa das mais horrendas cenas já vistas na política brasileira, torna-se evidente que a paralisação nacional dessa sexta (28) não decorre em defesa meramente de um partido político ou mesmo de uma presidente injusta, ilegal e violentamente deposta de seu cargo.

As forças que ora erguem-se lutam para barrar o avanço de um projeto de poder onde a quase totalidade dos cidadãos brasileiros estão sendo lançados às margens da Constituição Federal numa flagrante e obscena reedição do sistema escravocrata.

Decorre-se pois, que o indivíduo que posta-se contra a presente greve geral sob o argumento de não alinhavar-se a um determinado posicionamento político, incorre no terrível erro de abdicar de seus direitos constitucionais conquistados ao longo de décadas de lutas em prol da defesa de seus próprios algozes.

Apesar de termos sido completamente divididos por uma sempre prejudicial polarização política agravada profundamente pela desonestidade jornalística de uma mídia familiar corrupta e paquidérmica, já não podemos mais nos dar ao luxo de nos separarmos ainda mais justamente quando os traidores da pátria finalmente começam a sentir o verdadeiro poder das ruas.

Prova maior é o desespero com que o Establishment que se formou a partir do golpe de Estado vem acompanhando as movimentações para a greve geral. Acuados com a assombrosa rejeição de suas “reformas”, os representantes da plutocracia nacional e do capital internacional sabem que a única forma possível de detê-los é a mobilização popular.

Não é por acaso que os seus mais eficazes meios de alienação, obstrução e repressão já foram acionados. Mídia, justiça e a força policial trabalham diuturnamente para diminuírem a adesão dos trabalhadores à paralisação.

Enquanto a mídia faz o seu trabalho sujo de desinformação, a justiça impõe multas milionárias aos sindicatos dos transportes públicos de São Paulo que aderirem à greve. Se nada disso resolver, em Brasília, por exemplo, a Força Nacional montou um verdadeiro aparato de guerra às portas do Ministério da Justiça. Inacreditável.

Como vemos, já não existe diálogo possível com um governo ilegítimo que nos reduziu, todos, a uma enorme massa de errantes num país cujo futuro apresenta-se sob os símbolos do ferro, chicote e do açoite.

Por tudo isso, o dia 28 de abril de 2017 será o dia de iniciarmos a retomada da democracia.