O segredo do sucesso de Avenida Brasil

Atualizado em 20 de outubro de 2012 às 19:29

Você sabe qual é? Eu não, porque não vi um mísero capítulo. Mas me contaram

 

Carminha, a vilã que fez a presidente cancelar um comício com seus berros

Eu tentei. Minha amiga Tati Bernardi, escritora e roteirista da Globo, me disse que essa novela era diferente: “a iluminação, as câmeras, a direção de atores… É uma coisa revolucionária”. Eu tentei, repito. Da primeira vez, uma mulher, que depois soube que era a Carminha, berrava com outra. Da segunda vez, a outra berrava com ela. E da terceira. E então desisti para me dedicar ao meu livrinho e a Breaking Bad, Mad Men e outras séries que a TV a cabo deixa à nossa disposição. Ontem, o último capítulo. Dava para escapar? Ouvi falar que ia faltar luz — não faltou — e que não haveria ninguém nas ruas — a Lanchonete Real, aqui perto de casa, estava cheia. De qualquer maneira, foi um sucesso estrondoso, eu soube. Deveria ter acompanhado? Me fez falta?
Não quero ser esnobe, mas não me fez falta. Nenhuma. Acho tudo de segunda: a atuação, o texto… principalmente o texto, sempre sofrível e cheio de clichês. A maior definição de perda de tempo. Mas eu devo estar errado. Avenida Brasil teve média de 46 pontos no Ibope. Ontem, deu 52. Uma surra homérica em todos os concorrentes. Ricardo Waddington, diretor de núcleo da Globo, atribuiu isso tudo a como os pobres foram retratados. “Antes, eles estavam sempre sonhando em deixar o subúrbio e ficar ricos”, contou para a Folha de S.Paulo. “Mas agora nós queremos mostrar um lugar que, apesar de humilde, é acolhedor e onde há prosperidade”.
Avenida Brasil retratou esse crescimento da classe C, é a explicação mais comum. Perto de 35 milhões de brasileiros seriam, agora, de classe média. De acordo com o Instituto Data Popular, eles teriam metade dos cartões de crédito do país e gastaram um trilhão de reais no ano passado.
A Globo marcou um golaço comercial, também. Anunciantes como Procter&Gamble pagaram 400 mil dólares por 30 segundos de comercial. No total, a novela faturou 2 bilhões de reais em sete meses (calcula-se que o custo foi de 45 milhões).
Desconfio, porém, que a verdadeira razão do êxito de Avenida Brasil é mais simples: uma história capaz de segurar a atenção das pessoas por tanto tempo. Feliz ou infelizmente, porém, eu não vi nada. Nem o último capítulo, aliás. A próxima novela das 9, Salve Jorge, será passada numa favela ocupada pela polícia. Me contaram que será uma coisa revolucionária. Não duvido. Pena que eu terei mais o que fazer.