Sobre o caso do humorista do CQC que levou um corretivo

Atualizado em 27 de março de 2013 às 19:16

É até engraçada a tentativa de transformar Oscar Filho num mártir da liberdade de expressão

Explorar a dor alheia não é nada engraçado

É engraçada a tentativa de transformar o humorista Oscar Filho, do CQC, num mártir da liberdade de expressão.

Basicamente, ele fez graça na hora errada e levou uns sopapos de amigos de Genoíno quando este foi votar em São Paulo. Nada de muito sério. Mas na cobertura jornalística o fato ganhou dimensões dramáticas.

Hora errada porque Genoíno enfrentava um drama pessoal, depois de ter sido condenado no julgamento do Mensalão. Quanto isso lhe doeu se podia ver na bandeira brasileira que ele colocou nas costas ao votar.

Também transtornados estavam os amigos que o cercavam. O julgamento foi controvertido. Muita gente, ao ver o julgamento, ficou com a impressão de que o sistema judiciário brasileiro tem que passar por uma reforma.

A mim mesmo impressionou, pela falta de nexo, uma fala de um dos juízes, Marco Aurélio Mello. Num parágrafo, Mello dizia que a sociedade brasileira estava revoltada com os escândalos. Em outro, reclamava da apatia da sociedade. Ficou claro, no geral, que Mello tinha sido fortemente influenciado pelas “manchetes da mídia”. Mau sinal, dado que a mídia, num flagrante exagero, tentou dar ao caso ares de um novo “Mar de Lama”.

Foi sob circunstâncias emocionalmente complicadas que Oscar Filho foi fazer piada com Genoíno. OF teria sido vítima de uma agressão de “milícias do PT”. Teria sofrido até violências em “cárcere privado”. O Globo falou em “vandalismo”. Isso porque, como é tão comum, as pessoas em torno de Genoíno gritavam o canto clássico ao ver as câmaras da emissora: “Fora, Globo. O povo não é bobo”.

Há em mim a forte impressão de que as pessoas que exploram este episódio gostariam mesmo é de ver Oscar Filho morto. Teriam, aí sim, pretexto para falar – como tem dito Jabor – no perigo da “bolchevização” do país.

Mas se salvaram todos, a começar pelo humorista.

Para ele e para os editores do CQC pode ficar uma lição: humor tem limites. Transpostos eles, fica pateticamente sem graça.

Lembro que, no enterro de Amy Winehouse, uma dupla do Pânico se infiltrou no velório para fazerem piada. Amy morreu aos 28. Mas mesmo assim os dois mentecaptos acharam que valia a pena embarcar num avião e explorar a dor alheia.

Não levaram tapas, mas quem correria na defesa deles se levassem a chamada surra justa — aquela que, mais que tudo, leva você a meditar naquilo que fez?

O que Oscar Filho e os rapazes do Pânico fizeram foi abjeto. Oscar Filho recebeu um corretivo – e isso pode ser muito mais útil para ele, na formação de caráter, do que a cantilena interesseira dos que tentaram fazê-lo de mártir.