Não é possível.
Aquela menina linda, graciosa, delicada se transformou nisso?
Eu estava vendo um programa na BBC sobre o dia nos Jogos de Londres quando fui surpreendido pelo nome de uma senhora loira claramente castigada pelo tempo.
Olga Korbut.
Não.
Me veio à cabeça uma cena. Minha mãe, alguns anos atrás, encontrou minha primeira namorada. Mamãe estava com minha tia Lili. Jamais tinha voltado a ver meu amor perdido, e tinham passado uns trinta anos. Quis preservar a imagem do passado. Recebi dois relatos distintos do encontro. De minha mãe: “Ela continua linda!” De minha tia: “Virou uma velha gorda!”
Korbut. Olga Korbut. Para minha geração, ela é um mito.
Olga Korbut foi a russinha de 14 anos que reinventou a ginástica olímpica tal como a conhecemos hoje. Olga, os cabelos claros presos como se fosse uma criança, deslumbrou o mundo nas Olimpíadas de 1972, em Munique.
Sem ela não haveria, quatro anos depois, a romena Nadia Comaneci, outra deusinha da ginástica sobre a qual meu irmão Kiko – o popular Deputy — escreveu recentemente no Diário.
Minha decepção foi ainda maior porque Nadia, como pude ver no texto de Kiko, ainda hoje, aos 50, é bonita e atraente.
Mas Olga.
Deus, por que ela não ficou sempre com 14 anos?
Ainda assim. Eu acompanhei fascinado Olga no programa. Dei muito mais atenção a ela do que a dois outros colossos do esporte que também estavam ali, John McEnroe e Michael Johnson.
Estava sorridente, Olga, e se expressava num inglês bom sem ser fluente.
Numa cena marcante na história olímpica, nos Jogos de Munique, a pequena ginasta russa cometeu um erro grosseiro e depois, terminada sua apresentação, ao se sentar no banco, caiu num choro compulsivo. “Aprendemos ali que a mulher soviética também chorava depois de um erro”, disse um locutor inglês.
Eram ainda dias da Guerra Fria, e as soviéticas eram mostradas no Ocidente como matronas feias, gordas e emocionalmente geladas.
Olga Korbut era a negação de todos os esteorótipos.
Eram dias pré-internet, e as imagens de Olga no esplendor de menina mágica foram se fixando lentamente na memória dos que, como eu, a vimos em Munique 72.
E depois de 40 anos a revejo, chocado.
Vejo no twitter que muitos telespectadores jovens foram ao YouTube em busca de imagens de Olga ao vê-la na BBC, e ficaram encantados. Era como se dissessem: “Agora entendi por que a apresentadora do programa olha para ela com tanta devoção”. (Num vídeo, abaixo do artigo, você pode ver Olga antes e agora.)
Quanto a mim, confesso que preferia ter ficado com a imagem original, antiga, imortal, lírica – a visão daquela menininha russa frágil que chorou ao errar pouco antes de construir uma história de eterna beleza arrebatadora nas Olimpíadas de Munique, tanto, tanto tempo atrás.