A Amazon feriu Doria onde mais lhe dói (além do bolso): o ego. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 28 de março de 2017 às 22:09

 

A Amazon feriu Doria no lugar que mais lhe dói, depois do bolso: o ego.

João Doria é um narcisista. Não pode ser contrariado. O que não é espelho não serve. Ou somos todos Lucilia Diniz (para quem o amigo é “um homem movido a desafios sempre em busca de novos projetos!”, com exclamação!), ou somos inimigos e não gostamos de São Paulo.

Em tempo recorde, ele foi inventado como candidato por Geraldo Alckmin, eleito e alçado à condição de alternativa da direita a Bolsonaro para 2018, tudo baseado na conversa mole de que é “gestor”.

Sem inteligência emocional, vulnerável a qualquer provocação, está abrindo várias frentes de batalha, como o velho Adolfo, e, como o velho Adolf, não dará conta de tantas brigas.

Chamou um cidadão para a porrada na Vila Madalena no Carnaval, onde achava que seria aclamado. Ciro Gomes, que o classificou de “farsante”, deveria “cuidar de sua saúde mental”.

Tudo isso enquanto xinga Lula de “vagabundo” em vídeos para manter acesa a chama do baixo nível e ver se atrai mais algum bolsominion para suas hostes.

Para Doria, as empresas são obrigadas a estar a seu lado, seja de que maneira suspeita for — ou isso, ou estão contra ele.

A Amazon é “oportunista”. A Ultrafarma, que ganhou um jabá numa reunião da prefeitura e agora banca placas vendendo Doria em jogos da seleção, é preocupada com o futuro do Brasil.

A campanha para divulgar o e-reader Kindle questiona os muros cinzentos da cidade depois do estupro da 23 de Maio.

Filmado à noite, numa atmosfera meio distópica, o vídeo começa com a pergunta: “Cobriram a cidade de cinza?”. Em seguida, citações de escritores famosos aparecem projetadas nas paredes.

Doria gravou uma resposta. Visivelmente incomodado, pede doações. Na legenda do post no Facebook, escreveu que “existem várias formas de a Amazon ter uma postura cidadã autêntica e não oportunista”.

Seus fieis soldados do MBL já compraram a briga e estão tendo os chiliques combinados para defender o chefe.

JD repete seu ídolo não assumido Donald Trump, que mora no Twitter xingando e ameaçando seus detratores. A imprensa americana americana especulou, recentemente, sobre uma possível doença mental do presidente americano: transtorno de personalidade narcisista.

Em fevereiro, um grupo de psiquiatras e psicólogos enviou uma carta ao New York Times alertando para “a grave instabilidade emocional demonstrada nos discursos e nas ações do senhor Trump”.

Doria ataca o destempero de Ciro, mas reage de maneira desproporcional a qualquer sinal que não seja um afago. Está acreditando piamente no personagem que criou, com a mãozinha de Alckmin, que a essa altura deve estar desesperado.

Uma das frases do anúncio da Amazon lhe cai bem: “Os melhores livros, compreendeu, são aqueles que dizem o que você já sabe”. É de George Orwell em “1984”.

Doria espera da Amazon — e da sociedade — o que fazem seus assessores: sabujice e um bom negócio. Qualquer coisa fora do script deixa Narciso en-lou-que-ci-do.