A anistia da imoralidade. Por Carlos Fernandes

Atualizado em 25 de novembro de 2016 às 7:45
Maia
Maia

O país inteiro vem assistindo o desenrolar da proposta que anistia os crimes de Caixa 2 praticados por 10 em cada 10 políticos brasileiros, com a indignação e vergonha que só são permitidos a quem possui presidentes dos três poderes como Temer, Maia, Calheiros e Carmen Lúcia.

O festival de hipocrisia, desfaçatez, cinismo e grandiloquência para justificar uma das medidas mais absurdas, criminosas e desonestas de nossa pocilga política, poderia até ser analisada sob o aspecto da demência, não fosse idéia surgida justamente das mais espertas raposas que viabilizaram o golpe de Estado.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) – o destemido cavaleiro que encoraja os seus pares a não sentirem vergonha de aprovarem tamanha indecência – chegou a dizer em tom quase profético que “não tem anistia para crime que não existe”.

Deve realmente existir um lugar no imaginário dessa corja golpista onde o ato de arrecadar propina via utilização de caixa não registrado e declarado na justiça eleitoral seja uma prática legalmente aceita não passível de qualquer responsabilização  criminal.

Já o ilustre presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), bem ao seu estilo canastrão, limitou-se a afirmar que não passava de uma “forçação de barra” chamar de anistia o perdão retroativo ao caixa 2. Ainda segundo o senador, passada essa aberração na Câmara, é possível que o tema seja votado no Senado ainda este ano. Questão de prioridades, digamos assim.

Diante tamanho desserviço e desrespeito à população brasileira e às leis vigentes, o caminho natural a ser seguido seria sempre o do Supremo Tribunal Federal, guardião maior da nossa Constituição. Seria. Partícipe inconteste das piores vilanias vistas na história recente de nossa democracia, o que se houve daquela instituição nada mais é do que o seu ensurdecedor silêncio.

Livre o caminho de questões menores como legalidade e moralidade, o atual presidente da República, Michel Temer, o menor, já pavoneia aos seus interlocutores mais próximos que apenas aguarda a chegada do texto em sua mesa para sancioná-lo sem qualquer veto.

Fica assim representado o Brasil pós-golpe: uma Suprema Corte acovardada, subserviente e inoperante; um legislativo que legisla única e exclusivamente em causa própria; e um executivo refém e submisso que não faz outra coisa a não ser satisfazer as vontades de quem tornou possível a permanência de um sujeito sem um mínimo de envergadura moral que se exige para o mais alto posto da democracia brasileira.

Por fim, não deixa de ser irônico o fato de que num país como esse, onde a injustiça, a desigualdade e o retrocesso reinam incólumes, a anistia ao caixa 2 tenha vindo atrelado a um pacote que se  autodenomina “contra a corrupção”.