A bizarra regra que levou St. Pierre a permanecer campeão do UFC

Atualizado em 18 de novembro de 2013 às 23:03
o vencedor (esq.) e o perdedor
o vencedor (esq.) e o perdedor

 

Georges St-Pierre tomou uma verdadeira surra de Johny Hendricks na madrugada do último sábado (16), numa luta válida pelo título dos meio-médios do UFC. O retrato de ambos após o soar do gongo diz tudo.

E, ainda assim, ele saiu vitorioso do octógono.

Fãs de MMA, jornalistas especializados, o presidente da organização Dana White e – obviamente – Hendricks ficaram chocados com a decisão de 2 dos 3 juízes da luta em dar a vitória ao lutador canadense, que com o resultado agora soma 9 defesas consecutivas do cinturão.

“A Comissão Atlética de Nevada está estragando tudo”, disse White após o evento, sobre uma suposta falta de capacidade – ou caráter – dos juízes, que são escalados pelo estado para as lutas, não pelo UFC, como muitos imaginam (antes de fazer a pesquisa para este texto, eu era um deles). “Eles já acabaram com o boxe e querem acabar também com o MMA.”

Se alguém merece críticas, porém, não são os juízes – e, sim, o sistema de pontuação adotado pelo MMA, que foi adaptado do boxe e chama-se “10-point must system”. Pois a verdade é que, de acordo com a dita cartilha, os juízes não erraram assim tão feio em apontar St-Pierre vencedor, por mais absurdo que isso possa parecer.

O vencedor de cada round sempre ganha 10 pontos, enquanto o perdedor em 99% do casos leva 9. Nas raríssimas ocasiões de um espancamento explícito, o juiz dá 10-8 ou 10-7. Foi o que aconteceu em alguns rounds na segunda luta entre Junior Cigano e Cain Velazquez, na qual o brasileiro só apanhou enquanto o outro apenas bateu. Mas isso é tão incomum que nas 12 lutas do UFC 167, nenhuma delas – repito, nenhuma – teve um mísero round diferente de 10-9. Pois é.

Isso resulta em absurdos como o de sábado. Na ocasião, Hendricks ganhou com folga os rounds 2 e 4, mas não a ponto de um 10-8, segundo o critérios tradicionais do MMA (dos quais discordo, repito). Já os rounds 1, 3 e 5 foram equilibrados e poderiam ser dados a qualquer um dos lutadores. Calhou de 2 juízes os darem a St-Pierre e, pronto, um honestíssimo 48 a 47 em favor ao canadense.

Injusto? Sim.

Compreensível? Infelizmente, sim, pois nem todos os rounds marcados 10-9 são iguais, como deixou claro o combate entre St-Pierre e Hendricks.

Então me pergunto qual é a lógica dessa pontuação ser tão restrita. Procurei a resposta no Google e com amigos adeptos do MMA. Não encontrei nenhuma tese satisfatória. Se alguém tiver a sua, sinta-se à vontade para deixá-la na sessão de comentários abaixo. Acho improvável que alguém a tenha, mas vamos lá. Até mesmo Joe Rogan, o icônico entrevistador do UFC, andou criticando o sistema ultimamente.

E por que não dar empate em certos rounds, com 10-10? Essa é outra pergunta que foge da minha compreensão.

No mundo ideal, Hendricks teria saído do UFC 167 com o cinturão, talvez com um 10-10, 10-8, 9-10, 10-8 e 10-10. Mas o bizarro sistema de pontuação do MMA ditou o contrário. E a culpa disso, ao contrário do que andam falando, não é dos juízes – mas das mentes brilhantes da Federação Internacional de MMA, que até agora não mexeram um dedo para corrigir este tipo de injustiça.