A carne estragada, a falácia da eficiência privada e a podridão do governo Temer. Por Carlos Fernandes

Atualizado em 18 de março de 2017 às 15:52

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De escândalo em escândalo o país, ou pelo menos a sua parte mais inteligente, vem desmistificando alguns paradigmas forjados à base de mentira e ignorância. E olha que nesse particular não estou nem falando dos imbecis que afirmavam que a JBS era do Lulinha.

Com a deflagração da Operação Carne Fraca ficou comprovado – porque saber muita gente já sabia – que os grandes conglomerados da indústria alimentícia brasileira sempre se utilizaram da corrupção, essa grande “expertise” do mercado nacional, para burlar leis, ignorar regras e, claro, maximizar lucros.

Assim é o capitalismo selvagem. O lucro, a sua única razão de existir, não admite empecilhos. E por “empecilhos” entenda-se toda e qualquer forma de legislação em vigor que o impeça, seja de que maneira for, de alcançar os seus fins.

Trabalho escravo, salários miseráveis, desmatamento e emissão de gases poluentes, sonegação de impostos, corrupção de agentes e órgãos fiscalizadores, violação de regras internacionais de medidas fitosanitárias e… mistura de papelão e carne estragada a produtos com “rigoroso padrão de fiscalização” são exemplos de práticas do famoso “livre mercado”.

É incrível que num país como o Brasil sejam exclusivamente as empresas públicas as acusadas de ineficiência operacional e de fontes de corrupção.

O que vem se mostrando no decorrer dos anos é que são justamente as grandes corporações privadas as que mais incidem na dependência de recursos públicos e, o que é pior, na proliferação da corrupção desenfreada que habita todos os poderes de nossa República Federativa.

Bastaria citar as montadoras de automóveis que não sobrevivem sem incentivos governamentais ou, num caso ainda mais emblemático, as operadores de telefonia que, privatizadas a preço de banana para garantir a eficiência do setor, hoje imploram um aporte público de mais de R$ 100 bilhões.

Fiquemos apenas com o caso da BRF. A gigante que forma o oligopólio no setor surgiu da união comercial da Sadia e Perdigão. Essa união, por sua vez, só se deu em função da crise financeira enfrentada pela Sadia. Neste negócio multimilionário, muito dinheiro público foi investido em forma de empréstimo subsidiado. O resultado do investimento estatal está aí.

Se a economia já se apresentava um desastre, a coisa agora tende a piorar. A exportação de alimentos é um mercado especialmente sensível uma vez que trata de saúde pública. Mercados importantes para o setor como União Europeia e EUA já pediram informações ao governo brasileiro sobre o caso.

E é exatamente aí que vamos ser, mais uma vez, motivo de piada internacional. Como um governo ilegítimo formado a partir de um golpe de Estado sem qualquer credibilidade internacional irá explicar uma fraude dessas proporções quando o seu ministro da Justiça, Osmar Serraglio, está envolvido com o caso?

Todos os setores progressistas desse país alertaram sobre a podridão do governo Temer em todas as suas formas. A carne que consumimos diariamente é apenas mais um aperitivo dessa insanidade posto à mesa.

Aos envolvidos, sirvam-se.