A cidade mais ‘marinista’ do Brasil se divide enquanto aguarda decisão do apoio

Atualizado em 4 de novembro de 2014 às 12:56
Sirinhaem
Sirinhaém

Publicado na BBC Brasil.

 

Em Sirinhaém, a 78km ao sul do Recife, não é difícil encontrar simpatizantes ferrenhos de Marina Silva: praticamente três em cada quatro eleitores (74,19%) escolheram a candidata do PSB no primeiro turno das eleições – o maior percentual do país.

Agora, parte da cidade pernambucana de 43 mil habitantes aguarda um pronunciamento a respeito de quem Marina e seus aliados – o PSB e as lideranças locais – apoiarão para definir o voto no segundo turno.

“Quem Marina apoiar, eu voto. Você vai ver que muita gente acha o mesmo”, diz à BBC Brasil o taxista Carlos Ribeiro Ferreira, 37. No carro, adesivo com o número 40 e a foto de Eduardo Campos – mas não de Marina.

Sirinhaém é uma cidade costeira e empobrecida, mas que cresceu nos últimos anos calcada em avanços da cana-de-açúcar e do turismo na região, bem como na refinaria Abreu e Lima, da Petrobras, a 44 km de distancia.

Pelas ruas da pequena cidade, parte das dezenas de pessoas consultadas pela reportagem destaca o fato de Marina ser evangélica e de ela “ser uma pessoa sofrida que sabe o que é passar fome”. Mas o povo de Sirinhaém escolheu a ex-senadora, sobretudo, pelo fato de ela ter herdado a candidatura de Eduardo Campos, ex-governador pernambucano morto em agosto em um trágico acidente de avião.

“O voto na Marina vem do carinho que o pernambucano tem com Eduardo. Foi mais comoção do que razão”, opina a estagiária de jornalismo Larissa de Lurdes, 20, que trabalha em uma revista local. “Mesmo morto, ele participou da campanha de forma intensa.”

Larissa acredita que a maioria das pessoas rejeita Aécio Neves (PSDB), que teve 2,61% dos votos na cidade, “por achar que ele vai desprezar o Nordeste” se for eleito. “Mas se a Marina declarar apoio a ele, como fez o irmão do Eduardo, o pessoal vai votar nele”, diz.

Puxador de votos

Outro importante puxador de votos para Marina foi o prefeito Franz Hacker, do PSD, que fez campanha para todos os candidatos do PSB na cidade e, assim, ajudou a eleger o governador Paulo Câmara no primeiro turno e legisladores pessebistas com uma votação expressiva em Sirinhaém.

Popular e “benquisto”, nas palavras de moradores consultados pela reportagem, o prefeito convenceu muitos a votarem em Marina.

“Fizemos uma campanha intensa e o povo acredita na nossa proposta”, diz Hacker à BBC Brasil. “Estou apenas aguardando o posicionamento do Paulo Câmara (quanto a quem o PSB vai apoiar) para fazermos o mesmo esforço no segundo turno.”

A campanha pró-Marina foi tão significativa que até inibe moradores que não votaram na ex-senadora. A funcionaria pública Marta (que não quis dar seu sobrenome), por exemplo, puxou a reportagem de lado de uma conversa entre eleitores de Marina para contar em voz baixa que, na verdade, não votou na candidata do PSB, mas, sim, em Dilma Rousseff (PT).

Marta diz que a região melhorou graças aos empregos gerados pela refinaria Abreu e Lima e que o programa Minha Casa Minha Vida a permitiu mudar da casa da mãe para um lar próprio. “Votei em toda a chapa que o prefeito apoiou, menos na Marina”, afirma.

A mãe dela, Maria José, diz que “o que o prefeito daqui pedir, o povo faz” e lamentou que, no estado natal do petista Luiz Inácio Lula da Silva – que levantou muitos votos para Dilma na região em 2010 -, Marina tenha ganhado em 2014.

Com percentuais de voto superiores a 50% em diversas cidades próximas a Recife, Marina foi a candidata presidencial mais bem votada em Pernambuco (48% dos votos), o único estado em que foi vitoriosa, ao lado do Acre, seu estado natal.

Voto a Dilma e Aécio

Apesar disso, a reportagem encontrou diversos outros eleitores de Dilma nas ruas, inclusive menos acanhados em declarar seu voto do que Marta e sua mãe.

“Votei na Dilma, apesar de admirar muito o prefeito. Ela tem que continuar o que começou na presidência”, afirma a doméstica Maria Aparecida da Silva, de 49 anos.

“O clamor pela morte do Eduardo fez muita gente votar na Marina, que eu acho que não está preparada para ser presidente. Mas, agora, acho que a maioria vai votar na Dilma, mesmo que o prefeito peça votos pro Aécio”, complementa a conselheira tutelar Aylaneide Freire, 39.

Parte do eleitorado de Sirinhaém, no entanto, associa a presidente candidata à reeleição a políticas “antibíblia e favoráveis ao casamento gay”, criticadas na cidade – onde, segundo o IBGE, mais de um terço se declara evangélico, proporção superior aos sirinhaenses que se declaram católicos.

Já os que escolheram o tucano Aécio Neves evocam o discurso da mudança. “Já fui filiada ao PT, mas, hoje, jamais votaria neles. Lá em casa, demos nove votos para Marina, mas agora vou votar no Aécio”, opina Gláucia Maria dos Santos, dona de uma loja de artigos para festa.

“Votei no Aécio (no primeiro turno) e vou votar de novo. A Dilma não dá mais, não”, diz outro funcionário público, Félix do Nascimento, 62, montado em uma bicicleta decorada com adesivos de Eduardo Campos.