A cracolândia e o Helicoca. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 6 de maio de 2015 às 18:54
A cracolândia
A cracolândia

 

Dos problemas aparentemente insolúveis do Brasil, um dos mais dramáticos é a cracolândia.

Desde pelo menos 2005, quando a prefeitura de São Paulo fechou bares e hoteis naquela região, a situação apenas piorou.

Um novo programa retirou barracos e “favelinhas”. Cada investida desse tipo serve para espalhar viciados pelo centro.

A novidade é que a atual ação vai “asfixiar” o comércio de drogas, rastreando e prendendo os fornecedores. Quem fará esse trabalho? A Polícia Militar e a Guarda Civil Metropolitana.

No ano passado, a diretora do Denarc, Elaine Biasoli, falou dos esforços na área: “Nós temos ação diária, costumeira, rotineira. Desde dezembro, prendemos 65 traficantes só na cracolândia”. 65, repito. Em 2007, foram 270.

Volta e meia, uma detenção dessas é divulgada com estardalhaço. Salete Madalena de Souza Araújo, de 52 anos, tida como “cabeça de uma quadrilha”, foi apanhada com 2 quilos de crack, coca e maconha, além de cem celulares. Dois quilos, repito.

Jéssica Helena Martins Silva, de 25 anos, estava dentro de um Fiat Siena com 3,6 quilos de cocaína, 3 de maconha, uma pistola calibre 380 e munições.

Ambas estão apodrecendo em alguma cadeia.

A cracolândia movimenta um sistema corrupto do qual a polícia faz parte. Em 2014, dois policiais civis foram acusados de ser traficantes. Que fim levaram? Ninguém sabe, ninguém viu.

Considere o caso do Helicoca. O helicóptero do então deputado Gustavo Perrella, filho do senador Zezé, foi flagrado com meia tonelada de pasta base de cocaína no Espírito Santo. A PF avaliou a carga em 10 milhões de reais. Refinada, valia pelo menos cinco vezes isso.

Um ano e seis meses depois, ninguém foi preso. Em semanas, o delegado responsável inocentou os Perrellas. Os homens envolvidos diretamente no flagrante estão soltos, do piloto ao motorista que foi pegar o entorpecente.

Uma escala da aeronave num hotel fazenda no interior de São Paulo, onde ficaram 50 quilos, foi ignorada. O juiz federal Marcus Vinícius Figueiredo de Oliveira Costa deu um parecer: “Há realmente diversos aspectos que dependem de investigação, como a origem da droga apreendida, a dúvida sobre a internacionalidade, o papel dos envolvidos e a possível participação de terceiros”.

Não puniram vivalma no episódio do Helicoca, mas a Salete e a Jéssica, perigosas meliantes da cracolândia, estão em cana. Alguma coisa está fora da ordem.