A crise no governo Alckmin jogou no telhado a candidatura de João Doria. Por José Cássio

Atualizado em 5 de maio de 2016 às 9:02
Um dos sintomas da tendinite
Um dos sintomas da tendinite

 

A crise no governo Alckmin começa a ter desdobramento na candidatura de João Doria à prefeitura de São Paulo pelo PSDB.

Na reunião da Executiva municipal do partido nesta semana, dois membros pediram afastamento por 30 dias: Gláucio Lima Franca, Tesoureiro, e Rita Ribeiro, Secretária geral.

Gláucio e Rita são ligados ao vereador Andrea Matarazzo, derrotado nas prévias – Andrea hoje está filiado ao PSD, partido pelo qual deseja ser candidato a prefeito em outubro.

Os dois membros da Executiva não comentam abertamente, mas ficou no ar um sentimento de que o pedido de afastamento tem relação com os documentos do Panama Papers dando conta de que Doria comprou a offshore Pavilion Development Limited do escritório panamenho Mossack Fonseca e usou a empresa para adquirir um apartamento em Miami, nos Estados Unidos, em 1998, por US$ 231 mil, sem que a propriedade aparecesse em seu nome.

Dos 13 membros da Executiva municipal do PSDB, tirando o presidente, Mário Covas Neto, e o líder da bancada, Aurélio Nomura, pelo menos sete são ligados a Andre Matarazzo: além de Gláucio e Rita, Fernando Guimarães, Silvio Silva, Ciça (secretária do movimento Negro) e os coordenadores de área, Cláudinei (zona Norte) e Robertão (ZL).

Não bastassem os documentos vazados do Panama Papers, Doria enfrenta ainda a dificuldade de lidar com a crise instalada no Palácio dos Bandeirantes: fraude da merenda, ocupação de escolas e da Assembléia Legislativa por estudantes e agora a notícia, divulgada pela Folha, de que Alckmin “pedalou” e deu calote de R$ 333 milhões no Metrô.

Geraldo e Doria negam dificuldade para tocar a pré-campanha – inclusive nesta semana estiveram juntos da Feira da Associação Paulista de Supermercados.

Mas cresce no PSDB a especulação de que, até a Convenção do partido, em junho, muita coisa ainda pode acontecer.

“O recurso do Goldman e do Zé Anibal sobre a compra de votos e o uso da máquina estadual pelo governador ainda não foi julgado”, contou-me um membro da Executiva que pediu para não ter o nome revelado. “Agora com essas novas revelações o cerco começa a se fechar”.

O fato a ser considerado é que Geraldo foi imprudente quando decidiu peitar os caciques do partido e impor o nome de Doria.

Pior se considerarmos que atrelou o sucesso do publicitário com o “passo inicial” da sua jornada para “conquistar a presidência da República em 2018”.

O máximo que conseguiu foi expor os problemas internos e se isolar do grupo da capital, formado por Serra, FHC, Goldman, José Anibal, Arnaldo Madeira, entre outros.

O próprio Edson Aparecido, seu ex-braço direito e envolvido com a máfia da merenda (o esquema era operado pelo seu chefe de gabinete, no coração do Palácio dos Bandeirantes) também acabou afastado do grupo de Alckmin.

Sobrou o ex-deputado Julio Semeghini, que é de Fernandópolis, Silvio Torres, cujo maior orgulho é sua aprazível São José do Rio Pardo, e mais um grupo de garotos de recado que vive na barra da saia do governador.

Se em 2008, com ele próprio na cabeça de chapa, e igualmente sem o apoio do grupo da capital, Geraldo amargou um humilhante terceiro lugar, agora, numa situação até pior, com críticas e denúncias pra tudo que é lado, e com um candidato sem experiência e também envolvido em escândalos como João Doria, já há quem diga que, sim, esse gato não demora  para subir no telhado.