A crítica nonsense de Alckmin à peça interrompida pela PM é um endosso à violência policial. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 2 de novembro de 2016 às 17:39

 

A atitude de Alckmin diante da prisão arbitrária de um ator enquanto ele fazia uma peça em Santos é reveladora do que se esconde por trás daquela fachada de tiozinho dono de mercearia em Taguatinga.

“Claro que a atitude deles foi de muito mau gosto. Você virar de ponta-cabeça a bandeira brasileira, ridicularizar quem está trabalhando, colocando até sua vida em risco para defender a sociedade, é de muito mau gosto”, falou.

“Agora, liberdade de expressão é liberdade de expressão. Goste ou não goste, é um direito das pessoas”. Além da platitude idiota, o governador preferiu tecer considerações sobre a performance e o que ele considera de bom tom ao invés de condenar mais uma atitude truculenta de sua polícia.

Geraldo age assim porque, no fundo, concorda com o que fizeram os soldados. O ator Caio Martinez Pacheco explicou por que a papagaiada de que símbolos nacionais foram desrespeitados é mentira.

O espetáculo, diz ele, foi montado no mesmo local cerca de 20 vezes. “O projeto foi enviado para a Secretaria de Cultura e o vídeo do espetáculo foi aprovado dentro de 170 inscritos. Também ficamos em 2° lugar para serem realizadas seis apresentações desse espetáculo em 2017, em Santos”, afirma.

“Foi uma cena muito triste. Fomos cercados por diversos policiais, alguns empunhando armas. O policial entrou em cena dizendo ‘desliga essa porra’ e depois acusou a gente de desrespeitar o hino nacional”.

“Blitz – O império que nunca dorme” retrata a corporação ao longo de sua história. Alckmin não aparece, mas é porta voz e cúmplice de uma trajetória feita de sangue e horror.

Na quarta, dia 2, o Datafolha divulgou que 67% dos jovens brasileiros temem a PM. Mais: 70% dos entrevistados afirmam que os policiais cometem excessos de violência na função. Entre pessoas de 16 a 24 anos, essa sensação sobe para 75%.

A vocação para bater, intimidar e matar é assombrosa. Os estudantes paulistas sentiram isso na pele ao longo de meses. Interromper uma apresentação e prender um ator é um passo além na direção do autoritarismo e remete aos tempos mais sombrios da ditadura.

Ao invés de lembrar que um limite foi ultrapassado, Alckmin prefere dar palpites sobre estética teatral. Foi para isso que ele foi reeleito? Para passar a mão na cabeça de seus cães depois que eles mordem aqueles que deveriam proteger?

Foi.