A defesa da Guerra do Iraque por Obama terminou sua metamorfose em Bush

Atualizado em 19 de novembro de 2014 às 14:40
Separados no nascimento
Separados no nascimento

 

Barack Obama fez um discurso em Bruxelas, num encontro com líderes da União Euopeia, em que condenou a Rússia pelas ações na Crimeia. Do jogo. Mas, ao atacar Putin, ele fez questão de se dirigir àqueles que acusam os EUA de hipócritas.

“A Rússia tem apontado para a decisão dos Estados Unidos de invadir o Iraque como um exemplo de hipocrisia ocidental. É verdade que a guerra do Iraque foi tema de um debate vigoroso, não apenas no mundo todo, mas nos Estados Unidos também. Eu participei desse debate e me opus à nossa intervenção militar.

Mas, mesmo no Iraque, a América procurou trabalhar dentro das regras internacionais. Nós não reivindicamos ou anexamos o território iraquiano. Nós não tomamos os recursos deles para o nosso próprio benefício. Em vez disso, nós terminamos a guerra e deixamos o Iraque para o seu povo como um estado plenamente soberano que pode tomar decisões sobre seu próprio futuro”.

Se alguém ainda acreditava que Obama fosse uma alternativa a George W. Bush, o sonho acabou definitivamente.

A declaração é errada moral e factualmente. A invasão iraquiana custou em torno de 1 milhão de mortos. Quantos morreram na Crimeia? Matt Harwood, membro de uma associação chamada Veteranos do Iraque Contra a Guerra, veio a público responder que o governo americano, naquela ocasião, passou de uma mentira, que era a existência de armas de destruição em massa, para outra, a libertação do povo. “Essa ideia de que foi uma ‘guerra boa’ é ridícula”, disse.

Em relação a “não ter tomado os recursos” do Iraque, os EUA privatizaram o petróleo, abrindo caminho para as companhias americanas. Empreiteiras encheram as burras “reconstruindo” o país. Uma delas era a Halliburton, cujo CEO era Dick Cheney, vice de Bush.

A metamorfose de Obama como seu antecessor foi lenta, gradual e segura. Há 12 anos, ele chamou a guerra no Iraque de “estúpida” e disse que lhe faltava “uma razão clara e um forte apoio internacional”. Na presidência, viriam suas posições sobre o uso de drones, a defesa da espionagem, Guantánamo, as torturas (ou “técnicas de interrogatório avançadas”) etc. Apesar do marketing, a transformação está completa.

“Em questão de estilo, os dois presidentes acabaram tendo muito mais em comum do que eu esperava”, disse o ex-secretário de defesa Robert Gates. “Os dois parecem alheios a tudo, distantes”.

Talvez seja um pouco pior do que isso. O segundo mandato de Obama é o quarto de Bush.