A Eletropaulo está enganando os paulistas como fez a Sabesp?

Atualizado em 19 de janeiro de 2015 às 8:20

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“Neste momento, equipes da AES Eletropaulo trabalham no restabelecimento de energia para 19 mil clientes afetados pelas fortes tempestades que atingiram os 24 municípios da área de concessão nesta semana, incluindo a capital. Há previsão de pancadas de chuva para hoje.”

Essa era a nota no site da concessionária no dia de hoje. Ontem o número de clientes era de 40 mil e anteontem 80 mil. Só nos últimos três dias a Eletropaulo afirma ter atendido, portanto, 139 mil clientes. Acredite, ainda é pouco. Das 800 mil pessoas que foram atingidas por corte de energia desde o dia 12, mais de 170 mil ainda permaneciam sem luz até o final desta semana.

Que esses problemas ocorram no verão, sobretudo em decorrência de temporais, é de se esperar. Agora, que pessoas precisem sequestrar um caminhão da Eletropaulo até que o problema fosse sanado, vai uma distância. E que dizer de um hospital ter ficado nove horas sem luz e que médicos tenham precisado utilizar a iluminação de telefones celulares para realizar um parto?

Foi mesmo um evento tão atípico ou faltou prevenção? Estamos vivendo mais um dissimulado racionamento, omitido pelas “autoridades” assim como ocorreu com a água?

Água e energia elétrica, no Brasil, são unha e carne. Noventa e sete por cento da energia nacional é obtida através de hidrelétricas. Com a falta d’água, faltar energia não é nenhuma surpresa. Só na região sudeste, a entrada de água para geração de energia caiu 56%, segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico. Os reservatórios não estão se recuperando. Então, faltará luz ou já falta?

Há que se observar que contrariamente ao senso comum, mesmo neste inferno de Dante que vivemos com temperaturas acima dos 30 graus durante as madrugadas, o consumo reduziu. Na primeira quinzena do ano consumiu-se 7,1% menos energia que o mesmo período em 2014.

E então, onde está o problema? Falta d’água, quedas de árvores sobre a fiação, raios, tudo junto e misturado. Mas a Eletropaulo não pode culpar apenas os deuses. No episódio do sequestro de caminhão citado acima, ocorrido no bairro do Jabaquara em São Paulo (e caso semelhante no Butantã), em 40 minutos o problema foi resolvido.

Num bairro próximo dali, Vila Joaniza, moradores fizeram um protesto e o reparo foi realizado em cinco minutos. Devido ao temporal, uma chave de energia havia caído. Eles estavam há 76 horas sem luz. Em resumo, problemas simples estão no mesmo balaio que os mais complexos que envolvem equipes outras, como as da prefeitura no caso de quedas de árvores. A concessionária não consegue priorizar e diferenciar os casos para melhor direcionar os atendimentos?

Ok, nada disso está passando em branco e a empresa foi multada em R$ 3,7 milhões, mas qual o tamanho do risco real que estamos correndo? Vou novamente apelar para a comparação com a crise hídrica: é momentâneo ou estão nos enganando e encontraremos um problema muito maior ali na esquina? A crise é pra valer ou não passa de uma incompetência sem tamanho da Eletropaulo?

A empresa deve essa resposta. Viver duplamente às escuras é dose pra leão.