A estranha censura da FNAC ao livro sobre os black blocs que Jô detonou sem ler. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 17 de outubro de 2016 às 17:43
Os autores do livro sobre os black blocs no programa do Jô
Os autores do livro sobre os black blocs no programa do Jô

 

Há algo de malcheiroso no desconvite que a FNAC fez aos autores do livro Mascarados – a verdadeira história dos adeptos da tática black bloc.

Uma semana depois de eles serem chamados para um debate, que deveria ocorrer na segunda-feira, dia 17, a livraria cancelou o encontro.

A explicação dada a um dos autores, Willian Novaes (os outros dois são Esther Solano e Bruno Paes Manso), é que se trata de uma ordem da matriz na França, que proibiria eventos relacionados aos black blocs depois de um ataque ao site da empresa (!?!).

O recuo da Fnac vem na esteira de uma entrevista no programa do Jô Soares em que o apresentador deu um show de despreparo e preconceito.

Aliou sua proverbial tagarelice à ignorância completa do assunto, fazendo paralelos malucos com tropas nazistas e sendo descortês com Esther.  “Mas você tirou de letra, né? Levou bomba, gás, foi almoçar com eles…”, disse ele, a certa altura, em tom irônico e acusatório.

Ao R7, Novaes apontou que está em curso “o mesmo princípio de censura” do Jô: “O livro não é uma apologia, é uma reportagem, uma grande pesquisa para explicar quem são e o que eles pensam. É uma ignorância de não querer dar ouvido para temas polêmicos.”

Mais tarde, a FNAC alegou que o cancelamento não passa de “mal entendido de agenda”. A história é absolutamente mal contada. É muito difícil acreditar que, na França, esse tipo de atitude obscurantista aconteceria.

Se há registro na internet do tal ataque, ele está escondido muito bem, o que não faz sentido. Se há um receio de que os adeptos do black bloc apareçam e quebrem o lugar com seus tacapes, isso poderia ser dito.

A conversa mole serve para justificar uma atitude autoritária. Em nome de quê? Há assuntos que merecem ser discutidos e outros não? Obras que não agradam serão retiradas da vitrine? Se fosse o lançamento do livro sobre o “movimento” Vem Pra Rua, o protocolo seria igual?

Paes Manso contou que Jô Soares ligou pedindo-lhe desculpas pelo que fez na televisão. A FNAC fica devendo uma explicação.