A falta d’água ou a falta de informação: quem mata mais?

Atualizado em 4 de novembro de 2014 às 12:41

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O Datafolha fez uma pesquisa que revela que dois em cada três eleitores acreditam na veracidade das denúncias sobre corrupção na Petrobras. Tem mais: 66% deles acham que Dilma Rousseff tem culpa no cartório. Mais: a pesquisa mostra também que 80% dos brasileiros têm conhecimento das denúncias de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da empresa.

O Datafolha perguntou ainda até que ponto as denúncias sobre a Petrobras poderiam interferir no voto: 49% responderam que sim e 43% disseram que não.

E assim se explica boa parte dos votos em Aécio Neves: informação (verdadeira ou não) viralizada, repetidamente veiculada, martelada na cabeça do leitor/telespectador.

Pergunta simples: por que o risco de falta d’água ficou de fora da cobertura midiática durante todos esses anos? Quem sabia, além dos acionistas, claro, que desde 2012 isso já era um fato previsto pela Sabesp? Por que a população foi mantida à margem seca dessa situação?

A grande mídia coloca agora, só agora, o tema em pauta, responsabilizando muito mais o calor do que a inconsequente condução do governo paulista e também para se eximir de culpa. Futuramente dirá que mostrou o problema, sim (claro, assim como diz que fez a cobertura pelas Diretas omitindo a informação de que só entrou depois que um milhão de pessoas já estavam nas ruas).

Fazer essa cobertura agora é própria do cinismo desses grandes veículos, que colaboram com os poderosos de plantão e depois que a bomba estoura correm para tirar o glúteo da seringa. No mais, agora Alckmin já está reeleito.

Dessa forma, endossados pelo voto popular, Sabesp e seu patrono-mor manobram à vontade, desrespeitando a decisão judicial de não avançar sobre a segunda cota do “volume morto” de uma das represas do Cantareira. Isso foi constatado na medição feita pela ANA (Agência Nacional de Águas) na represa Atibainha. O nível do sistema Cantareira estava ontem em assustadores 4,3%. Repetindo: a Sabesp está descumprindo ordem judicial.

Mas se está faltando àgua, que é um recurso indispensável para a sobrevivência humana, por que não se pode retirar a água que lá está? Pode, desde que a Sabesp assuma que estamos em crise e ateste que seja impossível abastecer a região metropolitana sem avançar sobre a cota. Isso é o que diz, e pede, a decisão judicial.

Em tradução livre: “Quer pegar sua última reserva? Ok, apenas me comprove que já gastou todos os seus recursos e que havia tomado todas as precauções prévias”, simples não? Mas a Sabesp continua sem admitir isso. Seria assumir sua má gestão e sua visão de lucro. Vendeu sem se preocupar com a reposição do estoque (relatório da própria empresa em 2011 já afirmava isso), não orientou a população, e deu no que deu. Agora a presidente Dilma (a da Sabesp, Pena) está nas cordas e começa a fraquejar as pernas mas ainda não admite que esteja ocorrendo racionamento (até onde vai isso?), culpa o calor e troca cochichos dizendo que a CPI é só um teatrinho.

Água não é Coca-Cola, não pode ser tratada dessa maneira. Daí o porque nem tudo poder ficar nas mãos da iniciativa privada. Foi administrada como produto comercial e a crise ocultada por interesse eleitoral, tudo com anuência e colaboração de boa parte dos veículos de comunicação. Estes, se não detinham a informação desde o início, ignoraram que no ano passado a situação já piscava a luz amarela e era alardeada por sites como o DCM. Mas a crise permaneceu fora das manchetes. Por quê?

Essa postura da grande e velha mídia é asquerosa. Alguém consegue imaginar o tamanho da gritaria se um helicóptero com 500 quilos de cocaína fosse de um petista? Ou se o cartel de propinas engendrado no metrô de São Paulo ocorresse em gestões petistas? Ou se jornalistas presos e perseguidos fossem presos e perseguidos por políticos do PT? E o tamanho do escândalo se tivesse construído um aeroporto particular com verbas públicas na fazenda da família?

Não, não sou militante da estrela vermelha, leitor, nem digo que os desvios da Petrobras sejam fábula da oposição. Mas fico indignado com o desequilíbrio na cobertura jornalística. Ele é de má-fé, tendencioso, interesseiro, desonesto.

A crise hídrica desde 2012 vinha sendo mantida debaixo do tapete e agora estamos à beira da calamidade. Quem vai pagar por isso?

Mas vamos ao que interessa: se apenas a grande mídia não noticiou acerca do grave risco que corríamos, quem é mesmo o desinformado que não sabe votar?