A figura realmente fascinante do casal Cunha é Claudia. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 11 de outubro de 2015 às 7:40
Protegida no frio europeu
Protegida no frio europeu

E descobrimos que a personagem realmente fascinante do casal Claudia e Eduardo é Claudia.

Eduardo Cunha é essencialmente um achacador, um tipo de político que representa o atraso em sua instância mais primitiva.

Manipula deputados com seus ardis obscuros e manipula crédulos com sua igreja evangélica.

É o tipo de sujeito que ninguém quer ter ao lado numa mesa para jantar. Ignorante, como se vê quando ele posta suas próprias coisas no Twitter, iletrado, pequeno no mais agudo sentido da palavra.

Você não vai discutir com ele Tolstoi, ou receber uma sugestão de uma nova série, nada disso.

Suas causas são um museu ruim: contra o aborto, contra o casamento gay, contra qualquer coisa moderna nas sociedades contemporâneas.

É a favor da redução da maioridade penal e do financiamento privado de campanhas.

Hoje se vê por que ele se bateu tanto pelo financiamento privado: é de lá que vem o dinheiro que lhe deu contas secretas milionárias na Suíça.

Cunha é uma alma gêmea de alguém que os brasileiros conheceram bem na recente campanha eleitoral: Everaldo. O Pastor Everaldo.

Graça zero, carisma zero, espirituosidade zero, glamour zero.

Surpresa zero, também. Você sabe o que pessoas como Cunha vão falar qualquer que seja o assunto.

E então chegamos à parte surpreendente do casal: a jornalista Claudia Cruz.

É impossível que quando eles começaram a namorar, quase vinte anos atrás, um murmúrio não tenha se espalhado pelo Rio de Janeiro, onde ela um rosto conhecido e admirado como apresentadora da Globo: mas o que ela viu nesse cara?

Ela era cult entre os cariocas.

Até a voz despertava fantasias proibidas entre os homens. Claudia ficou célebre como a “Voz da Telerj”, no final dos anos 1990.

Você não conseguia completar uma ligação, o que era praxe naqueles dias, e aparecia a voz de Claudia para confortá-lo.

Era, segundo relatos, o único momento em que os cariocas amavam a Telerj, na voz enfeitiçadora que disfarçava a inépcia da companhia.

Cunha era o presidente da Telerj, o que mostra seus talentos administrativos. Chegou lá não por mérito, mas por indicação política.

Mostrara já capacidade de sobrevivência. Fora da equipe do tesoureiro de Collor, PC Farias, com o qual aprendeu a arte de arrecadar dinheiro da plutocracia, e escapou do colapso de Collor e seu tesoureiro.

Poucos anos depois da derrubada de Collor, lá estava Cunha na presidência da Telerj, levando tormento a cariocas em busca de ligações que se completassem.

Foi aí que o destino os juntou.

O que Cunha viu nela está claro. Todos os cariocas viam a mesma coisa.

Mas e ela?

Nelson Rodrigues tem uma frase soberba sobre amor e dinheiro. “O dinheiro compra até o amor verdadeiro.”

E o poder também.

Cunha era o que é hoje com vinte anos menos, um homem tosco e sem atrativos aparentes. Jornalistas são liberais no sexo, na bebida etc – o oposto de Cunha. Você não consegue imaginar Claudia, num domingo, ansiosa por ir a um culto de uma igreja pentecostal.

Mas ele era presidente.

Jornalistas são, com frequência, alpinistas sociais.

Mesmo os mais traquejados e lidos. Lembro o caso de Mario Sergio Conti quando se tornou diretor de redação da Veja.

Mario logo se deixou deslumbrar pelas possibilidades oferecidas pela companhia bilionária de Roberto Marinho. Finais de semana com Marinho significavam luxos com os quais Mario jamais sonhara.

Isso sem contar a chance de dizer na segunda feira quando lhe perguntavam onde fora no final de semana. “Na ilha do Roberto.”

Jornalistas gostam de chamar plutocratas pelo primeiro nome, para demonstrar intimidade.

Eduardo Cunha não era Roberto Marinho, mas era presidente de uma empresa.

O emprego na Globo não podia ser satisfatório para Claudia.

A Globo paga pouco,  e ainda menos para apresentadores iniciantes como era Claudia.

A empresa oferece uma troca não escrita: como você aparece, pode buscar dinheiro em outras fontes.

Foi o que Claudia fez ao gravar a mensagem da Talerj.

A Globo, além disso, sonega com o expediente de transformar empregados como Claudia em PJs. (Ela, na saída, processou a empresa por conta disso e ganhou.)

Tudo isso posto, Claudia era uma presa relativamente fácil para o presidente da Telerj.

De certa forma, vistas as coisas vinte anos depois, tudo funcionou. Claudia pôde até ter aulas de tênis na mesma academia de Agassi e Sharapova.

O marido, pelos seus expedientes de sempre, ascendeu na escuridão, e em certo momento era, segundo a Veja, o homem mais poderoso da República.

Tudo ia bem para o casal tão diferente na aparência entre si – até que a polícia e a Justiça suíça entraram em ação e fizeram o que a polícia e a Justiça brasileira jamais fariam.