A Folha reclama de censura enquanto tem o liberticida Aécio Neves como colunista. Por Mauro Donato

Atualizado em 14 de fevereiro de 2017 às 8:58
Eles
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‘Inadmissível’, ‘descadido’, ‘ridículo’, ‘lastimável’, ‘inaceitável’, ‘inconstitucional’ são os termos que compõe a edição de hoje da Folha de S.Paulo.

Todos eles em alusão à decisão do juiz Hilmar Castelo Branco Raposo Filho que proíbe o jornal de publicar matérias sobre a extorsão praticada por um hacker contra Marcela Temer. A medida atinge a Folha e O Globo.

A indignação passa pelos editoriais, reportagens, cartas dos leitores. Na página A4, um parágrafo instiga:

“É a primeira vez que há uma censura a veículo de imprensa a partir de uma ação da Presidência desde o fim da ditadura, em 1985.”

Ok, pode ser a primeira partindo diretamente da caneta do presidente, mas censura contra veículos de comunicação nunca deixaram de ocorrer. Já ouviu falar no Aécio Neves, dona Folha? Já, não é mesmo?

Ele é colunista da casa, escreve às segundas-feiras. Sabe o que ele faz contra sites, jornais e jornalistas que não o agradam? Pergunte ao jornalista mineiro Marco Aurélio Flores Carone. Por investigar a lista de Furnas, o jornalista foi preso por ‘difamar, caluniar e intimidar’ Aécio.

E que tal a experiência da jornalista carioca Rebeca Mafra que teve a casa invadida a mando do senador e teve apreendidos seu computador, HDs externos, pen drives, celeular, CDs com fotos e um roteador?

Aécio a acusa de fazer parte de uma espécie de ‘quadrilha virtual’ organizada para difamá-lo nas redes sociais. A ação atingiu Rebeca e mais 16 pessoas.

Sempre agindo com extremo autoritarismo contra jornalistas, investindo direta ou indiretamente contra vários sites (inclusive o DCM), e obtendo liminares de quebra de sigilo de IPs, Aécio Neves tem fixação por encontrar robôs que os estejam difamando em uma grande conspiração bolivariana. E foi peça chave no processo que tomou a cadeira da Dilma Russeff para entregar a Temer.

Então de que exatamente a Folha está reclamando? Ela teve seu papel para Michel Temer estar onde está e ‘ridículo’ é agora seu chororô. Não sabia quem era Temer, de onde veio e o que representava? Está espantada com autoritarismo de alguém que tinha cargos oficiais no governo durante a ditadura?

Temer foi procurador e Secretário nos anos de chumbo. Não se pode dizer, portanto, que era um militante contra o regime. Sua sensibilidade com o período é tamanha que no ano passado chegou a nomear para integrar a Comissão de Anistia um ex-sargento do Exército, Paulo Lopo Saraiva, militar que aparece em documentos do Serviço Nacional de Informação (SNI) como colaborador da ditadura.

Os grandes jornais vivem em torno do próprio umbigo. A PM pode estar espancando profissionais de comunicação pelas ruas, mas apenas quando um dos jornalistas da grande mídia se torna vitima é que a violência passa a ser considerada real e noticiada.

Diversos jornais de menor porte podem estar sofrendo perseguição há anos mas só quando a ‘censura’ atinge um grande é que há essa grita.

Não se trata de comemorar o infortúnio da Folha. A censura contra qualquer veículo de comunicação deve ser condenada e combatida. Mas a Folha de S.Paulo sabia o que estava fazendo quando escolheu dormir com o inimigo. Pagar o preço é apenas uma ironia do destino.