A Globo, Garotinho e Adolpho Bloch: uma questão de caráter. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 18 de novembro de 2016 às 16:40

Garotinho

Alguém cobra da Globo alguma magnanimidade no caso Garotinho, seu inimigo histórico. É na adversidade do inimigo que podemos mostrar elevação de caráter. Era mais ou menos este o argumento que vi.

Mas como cobrar da Globo algo que ela não tem? É mais fácil pedir ao vento que deixe de soprar.

Há um episódio exemplar nesse capítulo.

Adolpho Bloch, da Manchete, estava quebrado. Desesperadamente quebrado.

Ocorreu a ele pedir ajuda a Roberto Marinho e seus bilhões. Marcaram um encontro na Globo.

Mas havia uma desavença passada. A Globo perdeu os direitos de Carnaval para a Manchete por decisão de Brizola.

Marinho procurou Bloch para tentar um arranjo, mas a conversa não andou.

O troco veio no encontro entre ambos na Globo, anos depois.

Bloch foi submetido a uma excruciante espera de quatro horas na ante-sala de Roberto Marinho.

Aberta enfim a porta, Marinho disse apenas: “Estou esperando por aquela nossa conversa sobre o Carnaval.”

E encerrou: “Passar bem”.

Bloch saiu dali rumo à ruína. Marinho e a Globo seguiram sua trajetória bilionária — e impiedosa.

O fato está narrado na biografia de Roberto Marinho escrita por Pedro Bial.

O caráter da empresa estava impresso ali.

Você vê um caso — o de Bloch — e imediatamente entende o outro, o de Garotinho.