A história não será complacente com os canalhas que alimentaram de ódio os analfabetos políticos. Por Jean Wyllys

Atualizado em 11 de abril de 2016 às 19:54
Um muro vergonhoso que simboliza a divisão entre os brasileiros
Um muro vergonhoso que simboliza a divisão entre os brasileiros

O mundo está ao contrário e muita gente já reparou. Evocando, como “justificativa” para seus atos, as paranóias, delírios persecutórios e teorias conspiratórias que circulam na internet e são compartilhadas pelo WhatsApp – muito desse lixo reciclado lá da época da guerra fria entre Rússia e EUA – os analfabetos políticos e fascistas estimulados e insuflados pelos líderes do golpe contra a democracia (ou seja, os corruptos e plutocratas do PSDB, do DEM, Solidariedade e da FIESP; seus parceiros ou simpatizantes no judiciário, na PF, no Ministério Público e na OAB; e a chamada “grande mídia”, com destaque para Estadão, Veja e Globo) estão não só se armando – e alardeando seu arsenal e intenções em vídeos toscos publicados no Facebook – como praticando um tipo de terrorismo político real e virtual contra os deputados e deputadas que se declararam contra o impeachment da presidenta Dilma por motivos óbvios:

a) um processo de impeachment conduzido por um gângster, Eduardo Cunha, que é réu no STF pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro (inclusive em igreja evangélica) e em que mais da metade dos deputados que o constituem respondem na Justiça por crimes de corrupção e outros não tem legitimidade alguma;

b) ainda que o impeachment como possibilidade esteja previsto na Constituição (assim como está prevista a “promoção do bem de todos sem discriminação de raça, sexo, origem, idade e quaisquer outras forma de discriminação”), ESTE PROCESSO DE IMPEACHMENT CONTRA DILMA (é dele que estamos falando e não do dispositivo constitucional em si) é inconstitucional porque não há crime de responsabilidade praticado pela presidenta que o justifique – e, mesmo que Bicudo, Reale Júnior e a advogada e ex-assessora de governos tucanos Janaína Paschoal (aquela que parece ter entrado em surto psicótico, mas que, na verdade, apenas relevou seu fascismo abjeto que a maquiagem da Globo News e do Jornal Nacional buscavam disfarçar, tanto é que nem um nem outro mostraram a performance constrangedora da moça no Largo do São Francisco) queiram que as tais “pedaladas fiscais”virem crime de responsabilidade, as pedaladas não são crime;

c) sabemos que este processo de impeachment quer, na verdade, livrar os cleptocratas, plutocratas e as oligarquias políticas que parasitam os cofres públicos (nosso dinheiro, que deveria ser investido em saúde, educação, cultural, moradia, geração de emprego e renda e segurança) da punição e impor, a todas e todas nós, um retrocesso nos direitos já conquistados (da perda do FGTS ao aumento do tempo da aposentadoria, passando perda do direito de se organizar politicamente e perseguições institucionais a minorias sexuais e religiosas (não se esqueçam de que a bancada evangélica na Câmara Federal é a favor do impeachment da Dilma!).

O terrorismo dos fascistas e analfabetos políticos contra todos e todas nós que nos opomos ao impeachment da presidenta (e isso não quer dizer que gostemos do governo Dilma; apenas estamos convictos de que, gostando ou não, ela deve terminar o mandato para o qual foi legitimamente eleita, assim como os governadores tucanos Geraldo Alckmin e Beto Richa devem terminar seus mandatos mesmo que seus governos se pautem na repressão violenta a professores e estudantes em greve e na prática de pedaladas fiscais), esse terrorismo tem se expressado no envio de insultos e ameaças através do e-mail institucional e do WhatsApp (textos impublicáveis e mal-escritos) e da intimidação física, como aconteceu recentemente com Ciro Gomes, Juca Kfouri, a senadora Gleisi Hoffmann e, mais recentemente, com a deputada Zenaide Maia, que, licenciada para cuidar do filho doente, foi xingada e ameaçada aos berros, de madrugada, na porta de sua casa por uma turma de fascistas de verde-e-amarelo.

Essa gentalha acha mesmo que vai nos fazer mudar de posição com esse expediente violento e antidemocrático? Quem financia essa gentalha? Quem a está tocando como gado? Nós temos a pista, ou melhor, nós temos o pato a nos indicar quem pode estar por trás dessa violência. A imprensa – estimuladora de parte desse ódio – finge que essas violências não estão acontecendo, mas se faz de ofendida quando alguém como Guilherme Boulos, do movimento das pessoas sem-teto, usa uma metáfora para se referir à sua reação política ao golpe.

Quantas sedes do PSDB e do DEM foram vandalizadas e explodidas? Quantos reuniões de sindicatos patronais, como a FIESP, foram invadidas pela polícia “a nível de averiguação”? Quantas vezes figuras nefastas como Eduardo Cunha e Paulinho da Força e Jovair Arantes e Gedel Viera Lima foram constrangidos em restaurante por quem se opõe às suas conspirações? Quantas vezes pessoas contrárias a Aécio Neves foram lhe ameaçar e insultar à madrugada na porta da sua casa?

Ora, está claro quem foi que pôs nosso mundo a girar ao contrário; está claro quem começou e estendeu a espiral de violência política que hoje enfrentamos e cujo resultado final é a divisão literal do gramado do Congresso Nacional por um muro de ferro; está claro quem nos meteu nesse abismo – e a história não será complacente com esses canalhas!

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