Caos social: a história real por trás da ocupação do exército na Sabesp

Atualizado em 30 de maio de 2015 às 11:07

sabesp exercito

Esta é mais uma reportagem da série do DCM dedicada a investigar o papel da Sabesp e de seu controlador, o governo do estado de São Paulo, na crise da falta de água. As demais matérias estão aqui. Fique ligado.

 

O sistema Cantareira, depois de cair para menos de 10% no começo de 2015, mantém-se no nível de 19,5% com o uso de volume morto, enquanto as reservas de Alto Tietê, Guarapiranga e Alto Cotia caíram entre 0,1% e 0,3%. Estamos seguros, então?

Diante da imprensa, o presidente da Sabesp descarta a possibilidade de um rodízio pesado e afirma que passaremos o ano apenas com o racionamento parcial das reservas. No, entanto, desde abril nós entramos no período de redução de chuvas.

De acordo com o relator da CPI da Sabesp, vereador Nelo Rodolfo (PMDB), não está claro quais medidas estão sendo tomadas pela agência reguladora, que possui apenas três funcionários para efetuar a fiscalização.

Na manhã do dia 27 de maio, uma quarta-feira, o exército decidiu ocupar o Complexo Costa Carvalho da companhia, no bairro de Pinheiros. Cerca de 70 militares fizeram um estudo de atuação no local “em caso de caos social”. Parecia um ensaio para uma rebelião civil

O que aconteceu ali?

A resposta para esta pergunta apareceu em uma reunião envolvendo uma pessoa da Sabesp há um mês. O encontro envolveu diretamente o exército.

O Comando Militar do Sudeste (CMSE) organizou um painel no dia 28 de abril em seu quartel-general no bairro do Ibirapuera na zona sul de São Paulo. O tema? “Painel sobre defesa”, como estava escrito nos crachás. A gente precisa se defender do quê?

Foi um debate destinado a oficiais, soldados e alguns professores universitários e simpatizantes do exército. E quem palestrou? O diretor metropolitano Paulo Massato Yoshimoto, ao lado de Anicia Pio, gerente de meio ambiente da Fiesp, e do professor Antonio Carlos Zuffo, do curso de engenharia da Unicamp.

Massato disse a sua plateia seleta que, caso as obras emergenciais não sejam feitas de maneira efetiva, a região metropolitana pode ser severamente afetada em julho deste ano. O diretor é poderoso e é o homem diretamente ligado ao racionamento parcial que ocorre neste momento.

Veio dele a ordem para despressurizar os encanamentos, o que está gerando uma contaminação progressiva da água, além de aumentar as perdas. A medida traz tais problemas, mas evita a necessidade de um rodízio que interrompa de maneira mais severa determinadas regiões da cidade.

Essa estratégia irresponsável ajudou o governador Geraldo Alckmin a passar incólume no primeiro turno das eleições.

Paulo Massato deixou de falar sobre suas previsões catastróficas em público desde o fim do ano passado. Nas audiências públicas na Câmara Municipal, é ele que conversa diretamente com o atual presidente da empresa, Jerson Kelman. O conhecimento técnico está com ele.

A falta de chuvas em 2014 levou o diretor a afirmar em reuniões particulares que talvez fosse melhor que as pessoas deixassem São Paulo.

Fontes do alto e do baixo escalão da Sabesp dizem que Massato, funcionário do setor de perdas de águas desde 1983, seria indicação de Aloysio Nunes Ferreira. Ele está há 32 anos na Sabesp e há 12 no mesmo cargo.

Ainda não sabemos se as previsões apocalípticas de Massato vão se concretizar, mas a imagem dos homens fardados ocupando uma estatal é um sinal eloquente de que os paulistas têm um probleminha pela frente.