A incongruência moral de Reinaldo Azevedo a serviço de Aécio, seu bandido de estimação. Por Carlos Fernandes

Atualizado em 18 de outubro de 2017 às 8:25
Aécio e o bróder Reinaldo

Poucas coisas no mundo são mais nítidas do que as contradições morais de um hipócrita.

Vejam Reinaldo Azevedo.

Expoente maior do jornalismo de guerra que se aplacou no Brasil durante todos os anos em que o país foi governado pelo Partido dos Trabalhadores, a linearidade da análise política de Reinaldo é tão tortuosa quanto o caminho de um homem carregado de culpa.

Visceralmente conduzido e influenciado pelos ventos do oportunismo político de sua corrente partidária, suas convicções acerca dos mais diferentes desafios que a República enfrenta nesses tempos antidemocráticos são tão sólidas quanto um castelo de areia frente ao avanço do mar.

Para que fiquemos apenas no caso mais recente, façamos um paralelo de dois momentos distintos, apesar de similares, envolvendo duas figuras simbólicas do descrédito e da podridão que emana do nosso Senado Federal.

O primeiro se dá com o caso do agora ex-Senador Delcídio do Amaral, até então filiado ao PT-MS.

Preso por autorização do STF e depois transferido para prisão domiciliar através de parecer favorável da PGR, Delcídio havia sido também denunciado ao Conselho de Ética do Senado.

Informou à época reportagem da Folha que Delcídio teria enviado um recado aos seus colegas: “Se me cassarem, levo metade do Senado comigo”.

Nesse momento entra o nosso “valente” e “imparcial” Azevedo.

Com a sua já tradicional e peculiar arrogância, o então colunista da Veja publicou em 22 de fevereiro de 2016, no site do panfletário semanal, um artigo cujo título é, digamos, inspirador:

Que Delcídio, então, seja cassado e leve com ele ‘metade do Senado’. A nação agradece.

Segue o link com a belezura.

No texto, o ilustre pede atenção aos seus seguidores para que atentem a quem ficaria do lado de Delcídio e quem a ele se oporia. Isso porque, explica ele, “votos a seu favor estariam a indicar, então, que a raiz da decisão é o medo. Ou por outra: votar para não cassar Delcídio seria o mesmo que fazer uma confissão”.

No fim, o colunista ainda crava:

Se é como informa a Folha, então nos resta torcer para que tudo se dê no melhor interesse do Brasil:

a: que ele seja cassado,

b: que ele leve metade do Senado com ele – se essa metade tiver culpa no cartório.”

Muito bem. Passemos agora ao segundo momento.

Horas antes da sessão plenária do Senado que decidiu sobre o destino de Aécio Neves (PSDB-MG) no que se referia à manutenção ou não das medidas cautelares impostas pela primeira turma do STF, o mesmo “valente” e “imparcial” Azevedo publicou um artigo no site da RedeTV! com o seguinte título:

Não é Aécio que estará em causa, mas um Poder; há quase 30 senadores na fila da guilhotina”.

Eis o flagrante.

Ora, ora, ora. Nada como um dia após o outro.

Manso como um cordeiro, Reinaldo quis chamar a atenção para “o absurdo que está em curso”. Sobre a votação que manteria ou não as medidas cautelares contra o Senador (não se tratava de nenhuma cassação), alertou ele:

Aqueles que votarem pelo afastamento do Senador Aécio Neves (PSDB-MG) estarão concordando com a imposição de uma pena a quem nem mesmo ainda é réu. Assim, não lhe foi dada a chance de defesa. É um escárnio”.

Mais.

Para piorar, Azevedo ainda defendeu, trocando em miúdos, que não se deveria afastar Aécio simplesmente porque existem outros 29 senadores em situação análoga. É pra acabar.

O que aconteceu com a sua opinião de que tudo deva se dá “no melhor interesse do país” é algo que jamais saberemos.

Aécio Neves é um moribundo político que a ninguém neste país – à exceção de sua família, da ratazana política do Brasil e do próprio RA – interessa a sua permanência no Senado a obstruir investigações.

Da mesma forma, também não saberemos que fim levou sua opinião de que quem vota a favor estaria a indicar que a raiz da decisão é o medo ou, por outra forma, não cassar (no caso apenas afastar) seria como uma confissão de cometimento de iguais crimes.

Por fim, a sua fúria de que Delcídio levasse “metade do Senado” (suspeito eu que nessa “metade” jamais poderia abarcar o “Aécim”), transformou-se hoje no pavor de que uma Poder inteiro possa está em jogo simplesmente porque outros 29 senadores também estão enrolados na justiça. Que vergonha.

São opiniões que, de tão diametralmente conflitantes sobre um mesmo tema, jamais poderia sair da cabeça de alguém com um mínimo de coerência política, honestidade intelectual e retidão moral.

Descaradamente forçado, o caramboleiro da massa direitista fingiu, distorceu, deturpou e desvirtuou o sentido de tudo o que estava sendo debatido a um ponto que para algum desavisado pudesse até parecer que o rapaz sequer sabia do que estava tratando.

Em nenhum momento o afastamento de Aécio seria uma “pena”, em nenhum momento estaria sendo subtraído o direito à plena defesa do Senador e, sobretudo, em nenhum momento o que estava sendo discutido era a sua cassação.

Seja como for, embusteiros à parte, divulgados os votos dos excelentíssimos senadores, duas verdades restaram absolutas:

1 – Na contenda entre os poderes, o Supremo Tribunal Federal, ao abdicar de sua prerrogativa constitucional de possuir a última palavra em matéria jurídica, sai menor, subjugado e desmoralizado pelo Congresso Nacional que simplesmente passa a ignorar suas decisões quando a determinados parlamentares se referirem;

2 – Fica provado que não só Reinaldo Azevedo, mas a maioria do Senado Federal, são capazes de toda ordem de cinismo na defesa de seus inimputáveis corruptos de estimação.

Segue firme o grande acordo nacional. Com Supremo, com tudo.