A indignação postiça dos evangélicos com Lula e o diabo. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 25 de maio de 2015 às 15:46
Lula com os sindicalistas
Lula com os sindicalistas

 

Silas Malafaia e Magno Malta gravaram vídeos iracundos em resposta a uma piada que Lula fez num encontro com sindicalistas do setor bancário. Que mentira Lula falou para provocar a ira deles e de outras lideranças evangélicas? Nenhuma.

Conversando sobre o ajuste fiscal, ele afirmou que as famílias de trabalhadores costumam gastar além do orçamento no final do ano e, em janeiro, aparecem os impostos. A culpa fica sendo do governo, disse.

E então comparou: “Os pastores evangélicos jogam a culpa em cima do diabo. Eu acho fantástico isso. Está desempregado é o diabo. Está doente é o diabo. Roubaram seu carro é o diabo”.

“Acho que é legal porque é direto”, continuou. “Não tem investigação. É a teoria do domínio do fato. E a solução é Deus. Paga o seu dízimo que Jesus salvará”.

Alguma falsidade nisso?

Malafaia devolveu afirmando que o mensalão e o petrolão não foram obra de Satanás, mas do PT. “Não tenho ódio de você não. Mas deixa eu falar uma coisa para você, que você vai entender: saiba que Jesus liberta da cachaça”, disse.

Malta baixou ainda mais o nível com menções a alcoolismo, câncer na garganta e “enriquecimento em apenas cinco anos” de Lulinha. Coisas do diabo.

Uma das obsessões da pregação evangélica — e uma das chaves do sucesso — é a exteriorização das responsabilidades. As igrejas têm sessões do que chamam de “descarrego” ou “desencapetamento”.

A figura do canhoto precisa ser mantida viva e temível para que esses picaretas chantageiem seus fieis. Não é um truque novo, mas eles aperfeiçoaram.

Há alguns anos circula na internet um texto apócrifo, terrivelmente mal escrito, chamado “Lula da Silva, um Presidente a Serviço do Diabo”. A alturas tantas, numa despirocada que vai da Bíblia à Segunda Guerra Mundial, ficamos sabendo que “Lula da Silva tem introduzido no Brasil a maior alavanca para a abertura da porta da perseguição contra os cristãos desde que o Brasil foi descoberto.”

O recado é o seguinte: o cramunhão é deles e ninguém tasca. O que seria dos malafaias, maltas, macedos e felicianos sem o tinhoso? Como arrancar dinheiro sem essa ameaça?

Não tem nada a ver com teologia e sim com praticidade. A besta é sócia, mais do que inimiga, e precisa ser protegida de aventureiros como Lula.