A inesquecível lição de oratória e de decência que Gleisi deu em Cristovam. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 25 de outubro de 2016 às 17:09
Guerreira
Guerreira

A cena simboliza os nossos dias.

De um lado, a virtude, a integridade. De outro o cinismo e o vício.

Me refiro à troca de palavras entre Gleisi Hoffmann e Cristovam Buarque em que este confessou que o golpe foi armado para que fosse aprovada a chamada PEC do Fim do Mundo.

O confronto de estilos não poderia ser mais revelador das diferentes entre os dois lados.

Gleisi está séria, firme, altiva, olhos cravados não apenas nos olhos de Cristovam — mas em sua alma. Cristovam, esparramado em sua poltrona, é uma mistura de deboche e nervosismo. Está descomposto, a despeito do paletó e da gravata. Os risos entrecortados não conseguem esconder que ele está acuado.

Gleisi foi vivaz o suficiente para aproveitar um vacilo do oponente e levá-lo a confessar a motivação dos golpistas. Diz que queria vê-los ganhar a eleição com aquele programa. Desconcertado, Cristovam admite que os golpistas fatalmente perderiam nas urnas.

Não poderia haver uma confissão mais cândida, e abjeta, de crime de lesademocracia do que aquela. Mas Cristovam está com o sentido de ética e decência tão amortecido que parece não se dar conta da barbaridade que proferiu. Gleisi, ao contrário, sabe que está registrando um diálogo para a posteridade, e trata de extrair tudo dele.

Eles são perfeitos antagonistas. A crise que levou ao golpe fez Gleisi crescer extraordinamente. Uma guerreira emergiu daquele período tão sinistro da história nacional.

Cristovam, em compensação, diminuiu na mesma proporção em que Gleisi se elevou. Até o embate com Gleisi, parecia que ele não poderia se rebaixar mais.

Mas ele estabeleceu um novo recorde pessoal em patifaria ontem — uma espécie de lembrança, para todos nós, de que não existem limites para a canalhice.