A lição de antijornalismo do Estadão no caso Haddad. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 24 de outubro de 2015 às 10:57
Desmentiu o Estadão
Desmentiu o Estadão

E as fofocas políticas devem se concentrar em Haddad neste final de semana por conta do artigo do Estadão que afirmou que ele cogita sair do PT e ir para a Rede de Marina.

Em política pode acontecer tudo, naturalmente.

Haddad desmentiu prontamente no Twitter, mas mesmo isso pode não significar tanto assim.

Agora.

O que é indiscutível, no caso, é o jornalismo miserável do Estadão.

Você lê e não encontra uma única fonte citada. É o diz-que-diz no estado mais puro e abjeto.

Se conheço redação, o texto deve ser fruto da pressão que os jornalistas enfrentam para produzir coisas contra Lula, Dilma e PT.

É o vale tudo.

Você pode literalmente inventar qualquer coisa. Desde que seja contra os inimigos da mídia, não haverá consequências.

Um dia algum acadêmico do jornalismo haverá de compilar as falsas notícias sobre Lula, Dilma e PT saídas nos últimos anos.

Durante a campanha, foram copiosas aquelas que apontavam uma ruptura entre Dilma e Lula. Muitas matérias deram como certo também que Lula concorreria à presidência no lugar de Dilma, em chocante contraste com declarações cabais de Lula.

O repórter e o editor, sabendo o que se espera deles, vão afrouxando seu rigor. E podem perfeitamente inventar fontes e outras coisas do jornalismo miserável.

Isso não se faz com amigos dos barões e de seus prepostos. Produza alguma coisa desconfortável a Aécio ou a FHC e você terá que contar sua fonte para os chefes.

Batata, como gostava de escrever Nelson Rodrigues.

No meio dessa cruzada antipetista, quem se dana mesmo é o leitor, aquele ser ingênuo que acredita que jornais e revistas só publicam verdades.

Os desdobramentos da matéria do Estadão são absolutamente previsíveis.

O site da Veja colocou na primeira página a notícia, sem ressalva nenhuma. Para o leitor da Veja, Haddad cogita sair do PT. Ponto. Não havia sequer o “segundo o Estadão”.

É uma coisa engraçada a Veja. Quando uma delação atinge um amigo, por exemplo Eduardo Cunha, a revista se cerca de cuidados extremos ao noticiar.

Fulano afirma, de acordo com Sicrano, e por aí vai.

Quando a vítima é do PT, a forma de escrever é completamente diferente. O delator revela.

Parece piada, mas há muito tempo a Veja é mesmo uma piada em forma de revista. Bem como o Estadão.

No texto sobre Haddad, o Estadão afirma que ele tem se reunido até com FHC para decidir seu futuro.

É difícil acreditar que alguém como Haddad vá se consultar com FHC, símbolo do reacionarismo golpista.

O que ele poderia ouvir que prestasse de FHC?

E de Marina?

A imagem de Marina, perante o eleitorado progressista, que é o de Haddad, ficou seriamente manchada pelo beija mão dado nela por Aécio no segundo turno em retribuição a seu surpreendente apoio.

O apoio a Aécio custou um preço alto a duas pessoas: Eduardo Jorge, que virou nada depois daquilo, e Marina.

Haddad, caso saia do PT para beijar as mãos de Marina, corre o risco de ser visto como um político oportunista, mais preocupado com ele mesmo do que com um projeto de sociedade.

Mas repito: em política tudo pode acontecer. Marta não se filiou ao PMDB em nome do combate à corrupção às vésperas de estourar o escândalo de Eduardo Cunha.

Isto dito, não parece fazer nexo o movimento de Haddad sugerido pelo Estadão.

O certo é que mais uma vez o Estadão mostra por que se tornou conhecido entre os paulistas como o túmulo do jornalismo.