A maldição do voto útil

Atualizado em 9 de setembro de 2014 às 19:57
Eduardo Jorge
Eduardo Jorge

Os candidatos que eu escolho (quase) nunca vencem.

Nessas eleições para presidente não é diferente e estou entre Eduardo Jorge e Luciana Genro.

Eles me parecem pessoas mais agradáveis do que seus adversários. Gente para quem eu gostaria de telefonar e bater um papo, encontrar numa mesa de bar. Segundo J.D. Salinger, isso é o mais fundamental em muitas escolhas.

Eduardo e Luciana parecem ter uma visão de mundo semelhante à minha, ou a coragem que falta aos adversários de tocar em temas controversos e fazer as mudanças que eu também julgo necessárias.

Pelas pesquisas, porém, é Marina a candidata que caiu no gosto popular como a representante do “novo” e dessas mudanças. A alternativa à polarização PTxPSDB que há vinte anos nos governa.

Só que Marina não me agrada. Prefiro inclusive Dilma ou Aécio.

Marina tem um ar aborrecido, uma cara fechada de quem sofreu muito e ainda não se recuperou. Parece incapaz de rir com vontade ou de gozar, e isso sempre acaba por trazer problemas.

Já pelo seu programa de governo e posições históricas, a candidata me parece a mais conservadora entre os favoritos, e está à direita de Aécio. Ou como querem seus entusiastas mais animados, além da direita e da esquerda, acima do bem e do mal. Ou em cima do muro. Uma posição sempre muito perigosa e imprevisível.

Por isso cheguei a pensar em votar no Aécio no primeiro turno. Ao menos para que ele chegue ao segundo turno e perca para Dilma e não para Marina.

É a maldição do voto útil.

No cenário com Eduardo Campos e a possibilidade maior da eleição se decidir no primeiro turno, votar em Luciana Genro ou Eduardo Jorge eu considerava um voto em Aécio. E entre Aécio e Dilma, eu fico com a presidenta.

Mas agora é Marina quem me parece a candidata a ser evitada, e eu ainda tento me livrar da maldição do voto útil e do envenenamento por pesquisas eleitorais.

Acredito que muitos estão envenenados. Ou então iludidos de que Marina de fato propõe grandes mudanças.

Algo próximo ao que Eduardo Jorge ou Luciana Genro propõem, mas que ao contrário deles, é possível no momento.

Marina é possível, porém, por ser a síntese – e não a mudança – de “tudo o que está aí”.

É apoiada por grandes bancos, defende a independência do Banco Central e segue cartilha econômica muito próxima do PSDB.

Como Lula, veio de uma família pobre e nos pobres principalmente projeta a sua imagem de redentora.

Por motivos eleitorais pouco ideológicos, aceitou entrar em um partido que não a representa.

É contra a legalização das drogas, do aborto, frequenta uma igreja que afirma que homossexuais vivem em pecado.

Motivos para não votar em Marina existem de sobra.

Para elegê-la, muitos que esperam por mudanças parecem enxergar apenas um: ela é possível.