A manifestação verdadeiramente linda de tristeza pela morte de Santiago veio da filha Vanessa

Atualizado em 10 de novembro de 2014 às 15:18
Santiago
Santiago

A manifestação verdadeiramente  linda de tristeza pela morte do cinegrafista Santiago Andrade veio da filha Vanessa, jornalista de 29 anos.

Em seu Facebook, ela disse ser a continuação do pai e relatou, com firmeza admirável, a despedida dos dois no hospital.

Fora disso, o que se viu foi essencialmente um festival de hipocrisias em que se usou sem nenhum pudor o sangue de Santiago com finalidades políticas.

Santiago foi o veículo pelo qual foram demonizados os black blocs – e, por extensão, os protestos contra a desigualdade social.

Lendo os comentários nas redes sociais sem saber o que ocorrera, você seria tentado a achar que um black bloc simplesmente decidiu executar friamente Santiago com um rojão, como se fosse um novo Nechaev.

Você, pelos comentários, também ignoraria o papel crucial da polícia violenta e despreparada nas confusões.

E também ignoraria o que levou aos protestos: a insatisfação com o quadro social brasileiro.

Nas comemorações de seus dez anos no poder, o PT perdeu um bom tempo se autocongratulando pelos avanços sociais – que existiram, é verdade, mas foram absolutamente insuficientes para mudar o país como muita gente desejava.

Todos imaginávamos que o PT controlasse os movimentos sociais – até que o Passe Livre se apresentou ao país em junho passado, seguido depois pelo Black Bloc.

A direita viu nos manifestantes, como era de esperar, vândalos. E os simpatizantes do governo viram neles inimigos que ousaram romper o controle de protestos.

Até então, o que se tinha no país, em termos de protestos, eram as patéticas reuniões de conservadores, ou “coxinhas”, que não enchiam um ônibus.

Os novos manifestantes mostraram que muito ainda tem que ser feito pelos excluídos, e ninguém pode tirar deles o mérito por isso.

Quem promove a violência
Quem promove a violência

No ritmo em que as coisas iam, com os acordos pela governabilidade indo de Sarney a Maluf, de Renan aos ruralistas, mais 500 anos passariam antes que o Brasil se tornasse socialmente decente.

O Mais Médicos é fruto das Jornadas de Junho.

O fato, gostemos ou não, é que em sociedades com privilégios tão consolidados como a nossa, as mudanças só vêm com pressão popular – protestos.

Querem acabar com a violência nas manifestações? Primeiro: controlem, eduquem a polícia.

Segundo: acelerem o avanço social. Situações de emergência social pedem remédios de emergência.

Os protestos minguarão se as coisas que estão por trás deles – as absurdas condições em que vivem milhões e milhões de brasileiros diariamente humilhados, ofendidos – desaparecerem.

Torço para que Vanessa Andrade ainda tenha tempo de ver um país em que as pessoas não tenham que ir às ruas com tanta frequência para que nos lembremos de que, por mais que tenhamos avançado nos últimos anos, ainda somos abjetamente iníquos.