A manipulação da tragédia da professora que morreu depois do parto. Por Jean Wyllys

Atualizado em 26 de julho de 2015 às 6:17
Mariana na gravidez
Mariana na gravidez

De Jean Wyllys, no Facebook.

“Professora morre depois de tentar parto humanizado por 48h”

NÃO! NÃO É BEM ASSIM!

Muitas informações distorcidas e irresponsáveis estão sendo veiculadas sobre a morte de Mariana de Oliveira Fonseca Machado, 30, professora doutora da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), na última terça-feira, 21. Diante disso, e em solidariedade à família da professora, a UFSCar publicou uma nota de esclarecimento, repudiando a divulgação de informações equivocadas sobre o caso.

Mariana estava sendo acompanhada, durante todo o processo, por profissional habilitado, e deu entrada no hospital durante o trabalho de parto, em perfeito estado de saúde. Foi submetida a uma cesariana e teve a oportunidade de pegar sua filha no colo e amamentá-la. Somente após ser encaminhada para o quarto, iniciou-se um quadro de complicações da cirurgia.

Isto é, este caso se trata, na verdade, de morte por complicações da cirurgia cesariana! Não se trata de “morte por tentativa de parto humanizado”, como tentaram convencer algumas chamadas. Não importa onde Mariana esteve durante o início do trabalho de parto, pois isso não tem relação com o desfecho de complicação após a cirurgia, uma vez que ela chegou ao hospital, adequadamente assistida, em franco trabalho de parto e perfeitamente saudável.

O movimento de humanização do nascimento não se trata de um movimento para deslocamento do cenário do parto do hospital para a casa. O que o movimento defende é a autonomia da mulher e seu poder de escolha. A mulher gestante de risco habitual deve parir onde se sente mais segura, seja em casa, seja no hospital mais equipado do país. Com assistência adequada em todos os cenários.

A universidade, de maneira muito sensível em sua nota, explicou que “preconceitos em relação ao parto natural, e a cultura de cesariana brasileira, associados à falta de responsabilidade no compartilhamento de informações nas redes sociais e na mídia, levaram a divulgações equivocadas sobre o caso. Dados científicos indicam que a cesariana aumenta o risco de morte materna em 3-5 vezes, comparada ao parto normal. Dentre todas as causas de morte materna, a hemorragia é a mais frequente delas”.

Precisamos ficar atentos e atentas à indústria das manchetes que — sabe-se lá a troco de que — produzem chamadas como as que estamos vendo sobre esse caso.