A mão peluda de Dom Odilo e da Igreja na ração de Doria e na empresa que a fabrica. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 18 de outubro de 2017 às 13:26
Dom Odilo e Rosana Perrotti, fabricante da “farinata” de Doria

Uma figura passou um tanto despercebida no fiasco da Operação Ração de João Doria Jr.: Rosana Perrotti.

A dona da ONG responsável por produzir o “composto” não tem fábrica em atividade e nem capacidade de produção em escala.
Segundo ela mesma admitiu, a Plataforma Sinergia opera com indústrias licenciadas, cujos nomes ela não declina, e só fez amostras que foram distribuídas em creches.

“Nossa fábrica foi inaugurada em 2013, mas nós não tínhamos volume suficiente pra processar porque são tecnologias que são aplicadas na indústria de alimentos e farmacêutica e que demandam volumes”, declarou à CBN.

A secretária municipal de Direitos Humanos, Eloísa Arruda, contou que a “farinata” seria servida apenas para grupos muito específicos da população paulistana. Mas fala em levar a gororoba para países da África e para a Síria. 

Rosana Perrotti garante que seu preparado contou com um conselho de especialistas em sua elaboração, embora não tenha nomeado nenhum deles. Nutricionistas sérios de todo o país detonam sua criação.

A “farinata” foi defendida veementemente por apenas uma voz barulhenta: a da Igreja Católica.

O arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, ressaltou que “não é a pílula da fome”, mas uma “possibilidade alimentar” para ajudar no combate à desnutrição e ao desperdício.

“Seria uma pena uma coisa que nasce para ser boa acabar abortada por manipulação política ou desinformação, prejudicando os mais pobres”, apontou.

Dom Odilo e Rosana são antigos parceiros. Em 2013, ele enviou uma carta ao papa Francisco louvando as benesses do negócio. Meses depois, um estafeta do Vaticano mandou uma resposta protocolar, que Rosana reproduziu em sua conta no Facebook.

Com fama de “gestor” (olha ele aí), Odilo trouxe a firma de Rosana para sua órbita nessa época. Ela foi uma das estrelas de um painel sobre “desperdício de alimentos e combate à fome”, atendendo “uma chamada” do Sumo Pontífice.

O site Zenit, agência de notícias “formada por profissionais e voluntários convictos de que a sabedoria extraordinária do Papa e da Igreja Católica pode alimentar a esperança e ajudar a humanidade a encontrar verdade, justiça e beleza”, definiu assim a Plataforma Sinergia:

Uma solução ambiental e social, economicamente viável às indústrias de alimentos, supermercados e demais entrepostos de alimentos, que atende à PNRS – Política Nacional de Resíduos Sólidos e que permite reduzir custos públicos e privados, salvar vidas e proteger o meio ambiente.

Odilo e Rosana apareceram em atrações da Rede Vida. O lançamento do programa Allimento para todos estava coalhado de freiras e padres.

Doria segurava um vasilhame com um rótulo que reproduzia a imagem de Nossa Senhora. Tudo era “abençoado”.

Nas redes, Rosana passou a abraçar algumas causas religiosas — à direita.

Postou vídeos de combate à “ideologia de gênero” feitos por um certo professor Felipe Nery, presidente de um tal Observatório Interamericano de BiopolíticaNery dá palestras sobre “o neototalitarismo e a morte da família” em paróquias.

Num outro, o senador Magno Malta, celebrado intelectual, detona “esquerdopatas” e a exposição do MAM, que ele acusa de “pedofilia”. Há também imagens móveis de outro santo, Sergio Moro.

O que a Igreja ganha nessa? Dom Odilo pode responder.

Deus ajude as crianças pobres e famintas porque, se depender dele, de João Doria e sua turma, elas estão fritas.