A mesquinharia paneleira de SP por trás do projeto de lei que dá o nome de Marisa Letícia a um viaduto. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 12 de dezembro de 2017 às 15:10
Maisa Letícia: vetada na Chácara Santo Antônio

A Câmara de São Paulo aprovou na segunda-feira, dia 11, um projeto de lei que dá o nome da ex-primeira dama Marisa Letícia, morta em fevereiro, a um viaduto.

O PL ficou parado nove meses e só saiu por causa de uma mudança geográfica. O texto original previa a homenagem na Chácara Santo Antônio. Maria batizaria o prolongamento da Avenida Chucri Zaidan.

Com uma presença marcante de descendentes de alemães e portugueses, o bairro “nobre” tem ruas como Américo Brasiliense (terceiro governador de SP), Alexandre Dumas e Verbo Divino. Estão lá a estátua do Borba Gato e o consulado dos Estados Unidos.

Os moradores pressionaram pesadamente contra a iniciativa. O vereador Reis, do PT, recebeu mensagens como esta nas redes sociais: “O senhor quer enfiar goela abaixo o nome dessa senhora, que nem paulistana era! Sugira aos seus colegas de SBC que faça (sic) isso!”

Marisa, filha de uma benzedeira e de um agricultor, mulher do “molusco”, do “nove dedos”, não tinha lugar ali. Para evitar problemas com os paneleiros, optou-se por uma saída, digamos, conciliatória. A política é a arte do possível, assim como o batismo de logradouros.

O tributo foi transferido para uma obra que começa na Estrada do M’Boi Mirim e termina na Avenida Luiz Gushiken, no extremo sul da cidade, uma das regiões mais pobres e invisíveis do Brasil.

A sanção de João Doria pode ocorrer agora sem maiores problemas. O prefeito posa de democrata, os vereadores ficam numa boa e o pessoal da Chácara Santo Antônio não precisa ficar no Facebook xingando a morta de ladra, filha da puta etc.

E assim seguimos em nossa cavalgada, incapazes de qualquer gesto que não seja de mesquinhez e ódio.