A moral que preza pela “família” está fazendo com que mães matem filhos. Por Nathali Macedo

Atualizado em 14 de janeiro de 2017 às 8:34
Tatiana Lozano Pereira e o filho Itaberli
Tatiana Lozano Pereira e o filho Itaberli

Numa família nuclear comum, uma mãe mata o filho com três facadas no pescoço e, com a ajuda do marido, enrola o corpo num edredom, leva a um canavial e ateia fogo. Na delegacia, confessa o crime e diz que  o filho era homossexual e usuário de drogas.

“Eu não o aguentava mais.”

Tatiana Ferreira, gerente de supermercado, e Alex Canteli, taxista, suspeitos no crime que vitimou Itaberli Lozano, de 17 anos, homossexual, eram cidadãos comuns. Passariam até como “cidadãos de bem”: Emprego, residência fixa, impostos pagos e foto de natal da família.

Fazem parte do clã que defende a “moral da família brasileira.” São guardiões desta moral a ponto de não aceitarem a homossexualidade do filho (estamos no século XXI orientação sexual ainda está associada à moral).

Cresceram, provavelmente, ouvindo (e absorvendo, por todos os poros), que homossexuais e usuários de drogas são a escória da honrada sociedade brasileira e que, portanto, não merecem ser amados, tampouco respeitados, tampouco mantidos vivos  – nem mesmo segundo esta moral que diz, com o peito estufado de orgulho, defender a “família brasileira.”

Defendem a família brasileira, desde que não haja nela um LGBT, desde que um dos filhos não vire comunista, desde que nenhum membro tenha contato com drogas ilícitas (quanto às lícitas, tudo bem), desde que ninguém discuta nada e absolutamente todos – ignorando as próprias convicções e, se possível (spoiler: não é possível) a própria orientação sexual- obedeçam ao digníssimo e hipócrita modelo de Família Brasileira, que acoberta violência com a mais requintada hipocrisia.

Resumindo: A moral cristã –  que é a mesma moral da “grande” mídia, que é a mesma moral da Direita Brasileira, que é a mesmíssima moral dos Bolsominions – não defende a família brasileira. O que ela faz é, na verdade, justamente o contrário: Destrói-a por todos os lados, de todas as maneiras, e cada vez mais violentamente.

De qualquer modo, não deve ser muito saudável dar ouvidos a uma moralidade que faz com que mães matem filhos – se uma mãe que esfaqueia um filho e queima o corpo não é capaz de te convencer, eu tampouco o serei.

O fato é que, na verdadeira “família brasileira” – desconhecida para os mais conservadores –  há pessoas de todas as cores, de todas as orientações sexuais e políticas, com todo tipo de ideologia – qualquer moral que se proponha a defendê-la deve, portanto, ter como primeiro preceito a tolerância à diversidade – mas, sabemos, conservadorismo e tolerância não se dão muito bem.

Onde há conservadorismo, há violência – Itaberli Lozano certamente soube disso quando sua mãe – que confessou o crime sem nenhuma comoção – fincou-lhe uma faca no pescoço. Graças à moral conservadora e sedenta por violência, talvez agora lhe caia sobre os ombros uma estranha sensação de dever cumprido.