A noite em que Lula voltou aos braços do povo e caiu nas mãos de Moro. Por Pedro Zambarda

Atualizado em 19 de março de 2016 às 11:49

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O ato pró democracia na Avenida Paulista reuniu entre 380 e 400 mil, me disseram os organizadores. Datafolha deu 95 mil, enquanto a Rede Globo chegou a contar 23 quarteirões ocupados em 13 de maio contra 11 cheios na manifestação encabeçada pela militância petista.

A estrela de noite foi o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que discursou no responsável pelo aperto e por confusões no palanque montado no lado direito do Masp.

Cheguei à Paulista às 13h30. No vão do Masp, enquanto as centrais sindicais CUT e CTB se organizavam, integrantes do MST comiam em marmitas de forma discreta. A coisa começou a pegar fogo quando um dos palanques em montagem colocou nos alto falantes o jingle de Lula nas eleições de 1989.

“Passa o tempo e tanta gente a trabalhar, de repente essa clareza pra votar, sempre foi sincero de se confiar, sem medo de ser feliz, quero ver você chegar. Lula lá, brilha uma estrela!”.

A letra tirou o medo de muitos ali com a truculência de setores reacionários da direita que ocupavam a Paulista desde a divulgação maciça dos grampos do juiz Sergio Moro.

O ato seguiu pacificamente sem intervenções da Polícia Militar. O único incidente mais grave registrado foi com antipetistas justamente na frente da Fiesp. “Petistas de merda”, berrou um homem de preto. Um militante foi pra cima diante da agressão verbal, barrado imediatamente pela PM.

No empurra-empurra, um outro petista berrou: “aquelas são as câmeras da TV Globo? Vocês são uns grandes golpistas! Vocês são responsáveis pelo que está acontecendo aqui!”.

Os policiais deslocaram a cavalaria para os fundos do museu, mas nada mais intimidador do que isso aconteceu. O trânsito foi rapidamente desviado para realização do protesto.

“Não somos contra o trabalhador da imprensa. A gente fala mal do Ali Kamel, do William Bonner, do Roberto Marinho, da manipulação da Globo. Deixa o jornalista trabalhar”, berrou um sindicalista da CTB.

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Lula era esperado às 16hrs, no entanto o ex-presidente só subiu ao palanque às 19h30. Foi acompanhado pelo prefeito Fernando Haddad, pelo secretário Eduardo Suplicy, pela deputada Leci Brandão, pelo secretário Alexandre Padilha e pelo ministro do Trabalho e da Previdência Social, Miguel Rossetto.

Ele chegou escoltado e sob intenso empurra-empurra. Sorria e distribuía acenos.

Luiz Inácio Lula da Silva não discursava na Avenida Paulista há 14 anos, quando ganhou as eleições de 2002. Ele falou por cerca de 20 minutos, primeiro de um lado e depois do outro lado do palanque.

Estive ao lado do ex-presidente no discurso enquanto ele falava sobre o papel que teria como ministro-chefe da Casa Civil da presidente Dilma.

“Eles, que se dizem socialdemocratas, eles que se dizem evoluídos, pessoas estudadas, eles não aceitaram o resultado e eles estão atrapalhando a presidenta a governar este país. Eles vestem roupa amarela e verde pra dizer que são mais brasileiros do que nós. Corte uma veia deles para ver se o sangue deles é verde e amarelo. É vermelho como as nossas camisetas! É vermelho como a cor do sangue de Cristo. E eles não são mais brasileiros do que nós!”.

“Alguns setores ficaram dizendo que nós somos os violentos e tem gente que prega violência contra nós 24 horas por dia. Companheiros e companheiras, tem gente nesse país que falava em democracia da boca pra fora!”.

Terminado o discurso, beijou crianças, abraçou os militantes, tirou fotos e me deu um aperto de mão.

Saiu do palanque ao som de palavras de ordem como “não vai ter golpe” e “viva Lula ministro”. Infelizmente teve que amargar a notícia no final da noite de que o ministro do Supremo Gilmar Mendes suspendeu sua posse dentro do governo Dilma e mandou a investigação de volta ao juiz Sergio Moro. Recurso ainda cabe ao plenário do Supremo Tribunal Federal.

“Não tenho como medir o número dos protestos que aconteceram nesta semana, mas hoje foi expressivo para barrar essa ofensiva golpista, antidemocrática e intolerante, como aconteceu nos últimos dias, passar”, resumiu Guilherme Boulos, do MTST, logo após a saída do ex-presidente.

Torcedores de times como Corinthians e Botafogo estavam no local e na linha de frente, confirmando a presença da Gaviões da Fiel ventilada previamente. E os corintianos tinham cartazes afiados, como um afirmando que “se você não for cuidadoso, a imprensa fará você odiar os oprimidos s e amar os opressores”. Era uma crítica indireta à Globo.

Neste clima, mesmo com Sergio Moro e a grande mídia na sua cola com grampos, linchamento moral e devassa de seu patrimônio, Lula provou na Paulista que ainda é o homem que faz a periferia contar suas histórias de progresso graças ao governo dele.

 

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