A nova farinata de Doria é a propaganda nos uniformes escolares das crianças de SP. Por Donato

Atualizado em 14 de dezembro de 2017 às 15:41
Doria faz propaganda de empresa de amigo na prefeitura de SP

Foi aprovado ontem, em primeira votação na Câmara Municipal, o projeto que autoriza a prefeitura de São Paulo a fazer parcerias com o setor privado para a fabricação dos uniformes escolares da rede municipal.

A contrapartida é que nos uniformes seja previsto um espaço para exposição das logomarcas das empresas patrocinadoras. O projeto ainda vai para uma segunda votação e depois precisa ser sancionado pelo prefeito.

João Doria sancionará algo assim? Ele não vem dizendo sempre que consegue as doações sem contrapartida? Por que transformar uniforme escolar em espaço publicitário e alunos da rede escolar pública em garotos propaganda?

E o Escola Sem Partido, que tanto luta contra a doutrinação, contra a ‘lavagem cerebral’, contra toda e qualquer interferência na educação das crianças, irá baixar a cabeça para o deus mercado? Ou vai agir como tem feito nas sessões da Câmara que agridem e expulsam estudantes e professores contrários ao ESP? Vai perseguir e ameaçar os empresários também?

Conhecendo Doria, é barbada apostar que sancionará. O prefeito tem demonstrado imensa inaptidão para lidar com o tema educação. Neste ano, a distribuição de uniformes foi problemática, atrasou vários meses e Doria, claro, culpou a gestão de Fernando Haddad. Sem contar os cortes de transporte, de merenda e as farinatas da vida.

Conhecendo os tucanos também. Há tempos eles buscam esse jeitinho. Em 2005 (esse ‘plano’ já vem desde 2001) o prefeito era José Serra e igualmente tentou emplacar o projeto, fazendo muita gente coçar as mãos por dinheiro. “Só de agências de publicidade vieram cinco conversar conosco. É só a prefeitura bater o martelo em relação aos protótipos”, disse na época Roberto Chadad, então presidente da Associação Brasileira do Vestuário (Abravest). Os cifrões brilhavam em seus olhos.

A ideia pode soar como bacaninha, ‘realista’ para custear despesas públicas, tudo bem ao gosto de Homer Simpson. Qual o problema? Afinal muitos até pagam para exibir logotipos em camisetas, bonés, tenis. Tudo hoje em dia leva algum logotipo, veja os times de futebol. Que mal teria?

Acontece que escola pública não é um clube privado e uniforme escolar não pode ser usado dessa maneira. Não pode dar exclusividade para nada e muito menos endossar alguma marca. É público, é de todos.

E se o logotipo (que poderá ser aplicado em todas as peças do vestuário como camisetas, calças e bermudas) for da Friboi e o aluno for vegetariano convicto? Ele pode negar-se a vestir? Ok, Friboi é produto e talvez o projeto permita apenas marcas institucionais. Então o que dizer se a marca for de alguma dessas empresas que passam a frequentar as páginas de notícias sobre corrupção? Se for a JBS ou a Odebrecht, quem explica para as crianças essa relação?

Ainda que o projeto preveja que a logomarca do patrocinador não possa ocupar espaço maior do que o reservado ao logotipo da escola, pagar para ter sua marca em um uniforme não é boa ação, é patrocínio puro e simples. Uma ação mercantil de toma-lá-da-cá nada tem a ver com filantropia cidadã.

A empresa quer doar os uniformes? Ótimo, que faça, mas não exija a exposição de sua marca. Não é assim que Doria prega?