A oposição está ajudando Dilma

Atualizado em 25 de abril de 2013 às 13:44

Divididos, os oposicionistas vão facilitando a reeleição da presidenta.

Campos
Campos parece não empollar o Nordeste

Homem do campo, Hélio Garcia é conhecido pelas metáforas rurais, a fim de explicar o complicado universo da política. Em uma delas, desdenha o efeito dos comícios nas campanhas eleitorais: “Hoje em dia, ninguém mais faz comícios, nem mexe com gado gir”.

Na verdade há ainda criadores do gir. Mudanças genéticas melhoraram o desempenho desse animal, tanto para a produção do leite, quanto para o abate. Quanto aos comícios, é certo que os programas de televisão os substituem, mas apenas em parte. Apresença física dos candidatos e seu contato com o povo ainda decidem uma eleição.

Outra metáfora de Hélio, que pode parecer ofensiva – mas não é, se analisada devidamente – é a de que campanha eleitoral é como caminhão carregado de porcos. Enquanto ela não se desenvolve, na fase dos preparativos, é como se fosse o caminhão cheio, antes de partir. Os animais, inquietos, buscam espaços, mordem-se as orelhas e os rabos, grunhem e gemem. No momento em que o caminhão começa a rodar, eles procuram ajeitar-se ao movimento.

A política é a disputa dos espaços de poder. E, como em política, só pode quem pode, e só se pode o que se pode, para obter espaço é preciso conceder espaço. Os espaços  se definem e se limitam mediante as negociações. Política é conversa, é a busca dos acordos e entendimentos, tanto na situação quanto na oposição; é a arte de ceder, para obter, seja no atendimento às ambições pessoais de mando, seja nos programas de ação ideológica.

A oposição está dividida, o que não parece ser mau para os que defendem a reeleição da atual presidenta da República. Os partidários do ex-governador José Serra, entre eles o ex-comunista Roberto Freire, e o atual governador de Pernambuco, Eduardo Campos, organizam novo partido político, com o propósito de disputar as eleições do ano que vem.

Há algumas dificuldades nesse projeto. Dificuldades legais, em primeiro lugar, diante da legislação atual, que procura impedir o surgimento de novas siglas. E dificuldades políticas, que não são menores.

Ao contrário do que imaginam possível, Serra não será capaz de mobilizar, em torno de seu nome, parcela expressiva dos eleitores oposicionistas de São Paulo.  Nem Eduardo Campos empolga o Nordeste no apoio à sua postulação.

Ali, já começaram a surgir as primeiras dissidências. O candidato não conta com todos os governadores eleitos pelo seu partido na região.  A cisão mais notável é a do Ceará. Cid Gomes, o governador, e seu irmão, Ciro, uma das mais fortes lideranças regionais, e  grande presença nacional, já se opuseram às postulações do governador de Pernambuco. E não há sinal de entusiasmo entre os outros.

O quadro estará mais nítido no segundo semestre, ao se adensarem as candidaturas, a situação econômica definir-se, e o caminhão, finalmente, começar a andar.

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O jornalista e escritor Mauro Santayana, 80 anos, ocupou cargos de destaque em jornais como Folha de S. Paulo e Última Hora. Amigo e conselheiro de Tancredo Neves, foi o responsável pela articulação política da campanha presidencial do então governador de Minas. Seus artigos podem ser encontrados no blog www.maurosantayana.com