A origem do mito da feminista feia, raivosa e frígida. Por Nathalí Macedo

Atualizado em 9 de janeiro de 2017 às 18:26

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Digitei “feminismo” no Google e os resultados foram sintomáticos: “Feminismo é doença, feminismo é ruim, feminismo é de esquerda.”

As falácias em torno do feminismo – e das feministas, sobretudo – são estarrecedoras, pensei.

E certamente a partir dessa narrativa que os núcleos mais conservadores buscaram construir em torno do movimento feminista, surge o mito da feminista “feia”, raivosa e frígida.

Quando nos negamos a corresponder a padrões de beleza patriarcais que, não raramente, se assemelham a sessões de tortura – vide salto alto e depilação com cera quente – fomos consideradas, sob a ótica conservadora, feias.

Quando assumimos uma postura combativa diante de nossa condição de mulheres, politizando-a, fomos consideradas raivosas – pode variar para histéricas e misândricas.

E, finalmente, quando nos apropriamos de nossa sexualidade – que, até então, servira maciçamente à excitação masculina -, fomos, quase curiosamente, ditas frígidas.

O fato é que agora que precisamos cada vez menos de homens que legitimem nosso status social, o sexo deixou de ser moeda de troca. O que para as nossas avós era obrigação conjugal, para nós é uma maneira de transcender. Sexo se tornou, para nós, o que, para os homens, sempre foi. Prazer, pura e simplesmente.

Quando uma mulher se apropria de sua sexualidade, como temos feito, ela é capaz de vivenciá-la como sujeito, resistindo à objetificação.

É disso que estamos falando quando nos referimos à liberdade sexual – mas toda liberdade sexual que não serve ao que patriarcado espera é, de pronto, demonizada, diminuída, e no caso do mito da feminista frígida invisibilizada. Se nossa sexualidade serve ao nosso prazer, ela automaticamente deixa de existir, ao menos sob a ótica conservadora. Tornamo-nos frígidas.

Há homens, especialmente os mais conservadores, que não conseguem ainda – talvez não consigam nunca – lidar com isso. Estão tão terrivelmente habituados ao sexo meia-boca que uma relação sexual sujeito-objeto pressupõe que não têm culhões para relações sexuais sujeito-sujeito: com mulheres que querem vivenciar a própria sexualidade, que querem troca de fluidos, e não de favores sexuais.

É quase careta, mas não os culpo. A educação – inclusive sexual – patriarcal deu conta de formá-los como indivíduos incapazes de vivem o sexo sem rótulos, sem ego, sem relações de poder – o sexo que prioriza a transcendência e o prazer.

Quando dizem, portanto, que feministas não gostam de sexo, querem dizer – teriam dito, não fosse a desonestidade e, em parte, a ignorância – que feministas, em geral, não gostam de sexo careta dos machões orgulho-de-ser-hétero, que não as enxergam e, portanto, não lhes dão prazer.

Pensando bem, não precisa nem ser feminista pra dispensar esse tipo de experiência: basta ser um pouco inteligente.