A pergunta de um site alemão sobre a foto Moro-Aécio mostra a miséria da imprensa brasileira. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 10 de dezembro de 2016 às 11:32

 

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Milagre.

Alguém fez uma pergunta séria para Moro. Questionaram-no sobre a infame foto na qual aparece com Aécio numa festa da IstoÉ.

A imagem viralizou e provocou indignação em todos os que não idolatram Moro. Aquilo não era uma conduta digna de um juiz.

A pergunta era óbvia. Qualquer jornalista a faria na primeira chance, diante da repercussão da fotografia.

Mas não um jornalista brasileiro.

Moro é completamente blindado contra assuntos inconvenientes pelos repórteres das grandes companhias jornalísticas. Eles sabem que seus patrões não vão gostar de vê-lo de alguma forma constrangido.

Isso significa que a pergunta só poderia ter sido feita pela mídia de fora. E foi o que aconteceu. Foi o site alemão DW que aproveitou a ida de Moro à Alemanha para uma palestra para tocar no caso.

Só assim os brasileiros ficaram sabendo que Moro admitiu que a foto foi “infeliz”. Ele acrescentou uma justificativa oca e tola: era uma festa pública e Aécio não é investigado pela Lava Jato.

Mas admitiu a infelicidade da foto.

A explicação não se sustenta. Aécio não é ainda investigado, mas sobre ele recaem massivas suspeitas. Fora isso, é líder de um partido amplamente considerado como favorecido por Moro. Na plateia da palestra, manifestantes anti-Moro brandiam cartazes em que o acusavam de ser um “juiz do PSDB e da TV Globo”.

Moro parece não ter noção de que a um juiz não basta ser isento. Ele tem que parecer isento. Moro, ao contrário, parece estar empenhado em mostrar, ou até provar, que tem um lado.

Sua tendenciosidade é ao mesmo tempo ostensiva e impune. Até Lula e seus advogados partirem para um confronto que já deveria ter-se iniciado há tempos, ninguém jamais cobrou decoro de Moro.

A mídia tem um papel vital nisso. É cúmplice. É inteiramente chapa branca com ele.

Exatamente por isso uma pergunta tão óbvia como a que tratou da foto com Aécio jamais seria feita por jornais e revistas brasileiros. O jornalismo de guerra protege seus soldados, mesmo que à custa da verdade.

Devemos a um site alemão a primeira pergunta de verdade feita a Moro.

E agradecemos. Foi uma grande pergunta que nos fez lembrar o quanto a imprensa brasileira é pequena.