A presença de Cunha na presidência da Câmara é um escárnio e uma ameaça. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 12 de agosto de 2015 às 10:05
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A presença de Eduardo Cunha na presidência da Câmara é um escárnio e uma ameaça à democracia. Sob a proteção dos suspeitos de sempre, ele simbolizou a aposta no quanto pior, melhor. Deu no que deu.

Isolado, mas ainda contando com seus gângsteres, Cunha comprou briga com toda a república. Em circunstâncias normais, a acusação de receber propina de 5 milhões de dólares num processo como a Lava Jato deveria fazer com que ele saísse para as investigações ocorrerem sem obstrução.

No regime teocunhacrático, isso não existe. Ele tudo pode. Considera-se normal que obstrua a Justiça e que parlamentares, a soldo dele, partam para intimação de traficante de favela.

Desgostoso com a aproximação entre Renan e Dilma, seu alvo agora é o presidente do Senado. Os apaniguados vão incentivar os grupelhos da manifestação do dia 16 a incluir Calheiros na lista dos políticos corruptos de que o país precisa se livrar.

Ordenou também a seu pessoal na CPI da Petrobras que pedisse a quebra de sigilo telefônico do ministro José Eduardo Cardozo e do procurador Rodrigo Janot — este, parte de uma conspirata com o Palácio do Planalto para destruí-lo.

É o homem pauta bomba. Na terça, dia 11, a Câmara concluiu a votação em primeiro turno da PEC que vincula salários de integrantes da Advocacia-Geral da União, delegados civis e federais a 90,25% da remuneração de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).  O impacto é de cerca de 2,4 bilhões reais.

Vai cometendo barbaridades e negando, negando, negando. Seu comportamento lembra o de Collor às vésperas da queda.

Visivelmente descontrolado, agressivo, o olhar rutilante, vendo inimigos em todo lugar, um Macbeth de casa de saúde, declarando-se abandonado pelos amigos, Cunha é um incêndio em si mesmo.

“Ele é arrogante, autoritário e usa o cargo para debilitar o governo, em um gesto que muitas vezes se confunde com chantagem”, disse Jarbas Vasconcelos à BBC Mundo.

É esse chantagista, montado nos evangélicos, na bancada da bala, no PSDB, que está sendo canonizado pelos movimentos golpistas e por milhares de adeptos da indignação coletiva.

A posição de EC é insustentável e só se explica pelo momento caótico que atravessamos. Não durará muito tempo. Até lá, continuará no papel de Nero que lhe foi outorgado por brasileiros.