A presença do MBL na agressão xenofóbica a imigrantes na Paulista. Por Mauro Donato

Atualizado em 4 de maio de 2017 às 11:21

Em plena avenida Paulista, território reconhecidamente plural, ocorreu o episódio que pode ser tomado como marco para o agravamento da violência no país.

Brevemente, para quem não sabe do que se trata: um grupo fascistóide, organizado por uma tal página chamada Direita São Paulo, reuniu-se na noite da terça-feira para protestar contra a lei de imigração que proporciona mais direitos aos estrangeiros.

Um bando de semiletrados – a faixa principal trazia a inscrição ‘Não a lei de migração (sic) – pregando discurso de ódio, xenofobia e demais cretinices preconceituosas.

Houve um encontro casual com algumas pessoas minimamente esclarecidas, de ‘aspecto estrangeiro’ segundo os critérios dos manifestantes carecas e marombados, e foi o que bastou para começar a pancadaria.

Valendo 100 mil reais, leitor: do lado de quem a polícia ficou?

As pessoas agredidas é que foram levadas para a delegacia e mantidas durante muito tempo sem acesso a seus advogados. Entre os presos estava Hasan Zarif, dono do restaurante Al Janiah. Alguns estavam bastante feridos.

A página Direita São Paulo nasceu, adivinhem, em 2014, como mais uma alavanca na convocação dos protestos de rua pelo impeachment de Dilma Rouseff. Em sua apresentação, afirma ter ‘entendido’ que para combater a esquerda, não bastava somente fazer protestos e sim ‘tomar um posicionamento’.

Esclarece identificar-se com os ‘ideais da direita’ e deseja restaurar ‘todos os valores que a esquerda destruiu’. A partir daí foi um festival de ‘gente de bem’ aderindo. A paulistada WASP adorou os matadores de aulas de história.

Resumindo, o Direita São Paulo é irmão gêmeo do MBL. O movimento de Kataguiri, Holiday e companhia nasceu junto e compactua dos mesmos ‘valores e princípios’ higienistas. Ambos apoiam e são apoiados por bolsonaretes.

Há acusações e testemunhos que garantem que o MBL estava lá, sem envergar a camisa, claro. Uma série de fotos levantadas por uma página antifascista tem buscado a identificação.

A pesquisadora Indra Neiva, presente na avenida Paulista na hora da ocorrência, declarou: “Eu vi o pessoal do MBL fazendo o protesto criminoso, incitando o discurso de ódio e a xenofobia, o que é crime tipificado. Os palestinos estavam passando e pararam para ver a manifestação e então foram xingados e ameaçados.”

Várias outras testemunhas afirmam que integrantes do MBL foram depois para a frente da delegacia onde estavam detidos os ‘refugiados’, marcar presença e prestar incentivo à manifestação xenofóbica que espancou pessoas aos gritos de ‘Viva a PM’, ‘Não a islamização, vocês são terroristas’, ‘Comunista tem que morrer’.

No último dia 24 de abril, o MBL havia feito uma enquete entre seus fiéis: ‘Você é a favor ou contra a nova lei de imigração?’ Precisa dizer o que deu? Não tenho estatísticas, mas contei as primeiras 40 respostas. Todas eram contra. Nauseantes a não mais poder, faziam questão de justificar o voto ‘explicando’ o que significava a nova lei: ‘abrir as fronteiras para terroristas’.

Afinal, para eles foi isso mesmo o que aconteceu. Douglas Garcia, um rapaz pardo que se intitula vice-presidente da página Direita São Paulo (quem é vice-presidente de uma página de facebook? De que planeta essa turma veio?) postou um vídeo afirmando terem sido vítimas de ‘terroristas que atacaram uma manifestação de repúdio à lei’.

Seria cômico se não fosse trágico que um país no qual só quem tem ascendência indígena não pode ser considerado de origem estrangeira veja proliferar grupos como esses.

Grupos compostos por gente contaminada pela bactéria da ‘supremacia’. E que não aprende mesmo depois de ir para a Alemanha pagar de nazista e tomar uma surra por conta de seu tom de pele e por ser ‘confundido’ com refugiados.

O MBL endossa esse discurso. Sempre endossou, quando não difundiu. Mas, como diria o já saudoso Belchior, só quem é mal passado não vê.