A pressão baixa de Dilma e a pressão alta dos debates

Atualizado em 4 de novembro de 2014 às 12:41

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A pancadaria franca do debate no SBT, em que Dilma e Aécio se acusaram mutuamente durante o tempo inteiro, sem trégua, teve dois momentos emblemáticos.

O primeiro foi o aparte de Carlos Nascimento, o mediador, pedindo para a claque do PSDB se comportar. Foi uma bronca lúcida, a partir do seu púlpito esquisito, na torcida organizada, que aplaudiu estrepitosamente o candidato depois de um discurso.

O segundo foi o baque de Dilma na entrevista que se seguiu ao programa. A presidente tenta terminar uma frase, se atrapalha com a palavra inequivocamente, avisa que está mal.

A jornalista Simone Queiroz, solícita, lhe oferece um copo d’água e a conduz até uma cadeira. Simone afirmaria, na seqüência, que Dilma parecia já não estar se sentindo muito bem antes das duas começarem a conversa.

É absolutamente normal que, após quase duas horas de tensão e de trocas de ofensas pesadas, Aécio e Dilma tenham se sentido exauridos. Aécio tinha as mãos trêmulas quando questionado sobre nepotismo e falou abertamente de sua irmã Andrea.

Aos 66 anos, Dilma sentiu o peso do confronto e, segundo ela mesma, sua pressão baixou. A reação ao ocorrido, porém, foi no tom que tem sido conferido a esta campanha.

Militantes a chamaram de covarde, fujona, mentirosa, fingidora, farsante — e esses são os adjetivos publicáveis. Aécio, mesmo, foi flagrado pela Folha num telefonema com Marina Silva. “Deu o desespero. Viu que ele passou mal no final?”, disse a Marina.

É importante que debates tenham uma dose de agressividade para que ninguém durma. Mas quem esperava algo um pouco mais propositado — por exemplo, os milhões de indecisos — testemunhou uma briga de galo girando, basicamente, nos mesmos temas.

É sintomático do atual estado de ânimos que a cena de uma senhora pedindo para se sentar, após uma troca de golpes intensa, seja motivo de chacota, desconfiança e ódio ao invés de algo próximo de compaixão.

Se esse for o caminho dos próximos dois debates, não será de se estranhar se um dos dois contendores sair de maca, numa ambulância, enquanto a plateia urra e aponta os polegares para baixo.