A proibição da Globo de chamar as facções pelo nome é boa, sobretudo, para as facções. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 16 de janeiro de 2017 às 21:52
Ela não pode falar "PCC"
Ela não pode falar “PCC”

 

“A sabedoria nasce quando as coisas são chamadas pelo nome que elas têm”, disse Confúcio certa vez a um discípulo. “Se os nomes não estiverem corretos, a linguagem não estará de acordo com a verdade das coisas.”

A determinação da Globo de não invocar organizações como PCC, Família do Norte e Comando Vemelho pelo nome é um idiossincrasia idiota que favorece, sobretudo, a bandidagem.

A ordem, segundo conta Maurício Stycer no Uol, apareceu nos anos 80, quando o CV colocou o terror no Rio de Janeiro (Lobão confessou que foi “diplomata” do grupo nessa época, mas isso não vem ao caso agora).

Segundo Styver, o veto tem por objetivo não dar “publicidade” aos criminosos e às suas ações. Isso impediria que outras pessoas seguissem “o mau caminho”.

É pretensão e megalomania. Ou alguém acha que Marcola está preocupado com essa papagaiada?

É medo, também. Os caras são tão poderosos que a maior emissora do Brasil não tem coragem de citar o título de suas quadrilhas.

O resultado, para os profissionais, é a ginástica mental a que o pessoal da GloboNews, por exemplo, é obrigado para dar notícias. Leilane Neubarth, que já não é lá muito brilhante, faz o possível, sem sucesso, para ler o teleprompter sem se embananar.

O pobre espectador fica com a informação pela metade.

E todo esse zelo serviu para quê em termos de segurança, se era esse o caso? Para nada.

A maior das gangues, o PCC, surgiu em 1993 no Centro de Reabilitação Penitenciária de Taubaté, no Vale do Paraíba, por obra de uma dezena de detentos.

Enquanto Bonner e seus colegas se recusavam a pronunciar as três letrinhas, hoje é um exército calculado em 10 mil homens. De acordo com o Ministério Público Estadual (MPE), movimenta 40 toneladas de cocaína e 200 milhões de reais por ano.

As autoridades afirmam que haja pelo menos mais 25 gangues apoiando o PCC ou o CV, que disputam o controle das fronteiras do país para o tráfico de drogas.

Somente neste ano, foram 60 decapitados em Manaus, mais 27 em Roraima, o caos e a barbárie instalados no país sem hora para terminar.

Tudo isso apesar de Gerson Camarotti, Fátima Bernardes, William Waack — e o ministro Alexandre de Moraes, que também acha essa estratégia maravilhosa — não proferirem esses títulos e não fazerem “propaganda” deles.

Não é incrível?