A queda de Renan e o republicanismo fora de hora do PT. Por Carlos Fernandes

Atualizado em 5 de dezembro de 2016 às 23:00
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O ministro do STF, Marco Aurélio Mello, afastou liminarmente Renan Calheiros da presidência do Senado Federal. A decisão, que ainda deve ser submetida ao plenário da Suprema Corte, atende a uma ação protocolada nesta segunda (5) pelo partido Rede Sustentabilidade.

O pedido foi motivado após Renan ter se tornado réu no STF por crime de peculato, o que o impediria de ocupar um cargo na linha sucessória presidencial.

Apesar desse julgamento – o que impede réus de ocuparem cargos na linha de sucessão da presidência da República – ainda não ter sido concluído em função de um pedido de vistas do ministro Dias Tóffoli, Marco Aurélio entendeu que já havia maioria estabelecida no Supremo para sustentar sua decisão.

Com isso, num detalhe que passou despercebido pela turba que gritava anacronicamente “Fora Renan” nas manifestações de domingo (4), quem assume a presidência da Casa é o senador petista Jorge Viana, atual vice-presidente do Senado.

A queda de Renan Calheiros representa uma derrota significativa na sua batalha pessoal contra o Judiciário brasileiro. Acusado de tentar aprovar em regime de urgência a lei de abuso de autoridade numa manobra capitaneada pelo PSDB, se vê agora destituído de um poderoso instrumento de retaliação.

A saída de Renan da presidência do Senado também imputa um golpe doloroso no presidente Michel Temer. Peça fundamental no impeachment, o aliado Renan garantia ao Planalto a celeridade necessária para pôr em votação os projetos de seu interesse.

Com a ascensão de Viana à frente do Senado, o calendário previsto de aprovação das medidas esdrúxulas propostas por Temer e seu inoperante ministro da economia, Henrique Meirelles, poderão sofrer um indefinido adiamento.

Iminentemente em risco, usuários da saúde, da educação e da previdência social se tornaram beneficiários imediatos da saída de um capacho servil para a entrada de um político de oposição capaz de equilibrar as forças envolvidas no jogo democrático.

Isso se o irritante republicanismo fora de hora do PT permitir.

Já surgem rumores de que Jorge Viana estaria disposto a convocar novas eleições para a presidência do Senado, caso o plenário do Supremo mantenha a decisão do ministro Marco Aurélio.

Segundo Viana, isso seria necessário para que o novo presidente da casa tivesse “total legitimidade” perante a instabilidade política pela qual passa o Brasil. Lindo.

A mais alta corte do país assistiu a um psicopata de altíssima periculosidade presidir a mais horrenda sessão já vista no Congresso Nacional, vimos uma horda de senadores vomitarem hipocrisias enquanto confirmavam um golpe de Estado, tivemos uma presidenta violentamente expulsa do cargo por uma verdadeira quadrilha de criminosos, rasgaram mais de 54 milhões de votos populares, proclamaram um traidor decorativo e incompetente como líder maior da República e o PT agora se preocupando com a “legitimidade” do novo presidente do Senado.

Foi justamente através dessas atitudes – a de tratar com o devido respeito republicano uma alcatéia de hienas golpistas – que Dilma Rousseff perdeu completamente a governabilidade  e o controle de seu mandato.

Enquanto o Partido dos Trabalhadores não entender que não só ele mas toda a esquerda vive um ataque jamais visto em nossa história e que as normas democráticas não estão sendo observadas a cada investida do consórcio formado pela grande mídia, o Legislativo e o Judiciário, o republicanismo posto em pauta desde o primeiro governo de Lula jamais será a resposta para tamanha insanidade.

Ou a esquerda reage com as armas que ainda lhe restaram, ou estará fadada a amargar as injustiças diárias dos anti republicanos.