A razão pela qual a mídia brasileira odeia e teme o governo Kirchner

Atualizado em 16 de fevereiro de 2015 às 11:59
Culhão
Culhão

A mídia brasileira está obcecada pelo caso Nisman. O-promotor-que-apareceu-morto-um-dia-antes-de-apresentar-uma-grave-denúncia-contra-a-presidente-Kirchner-por-ter-encoberto-terroristas-que-explodiram-a-embaixada-israelense-em-Buenos-Aires-em-1994 virou estrela da editoria internacional do noticiário televisivo brasileiro, neste janeiro de seca e escândalo da Petrobras.

A mídia brasileira odeia e teme o governo Kirchner. Deixemos no armário questões ideológicas ou intenções políticas. É uma ojeriza que tem mais a ver com o mercadológico. O casal Kirchner foi, nada mais e nada menos, que uma espécie de pioneiros em coragem (leia-se culhão) de comprar uma briga necessária.

Estas jovens democracias latino-americanas precisavam mesmo de uma sacudida de realidade: um Estado colocando sobre a mesa a urgente e imprescindível necessidade de reivindicar seu poder como concessionário das licenças PÚBLICAS de rádio e televisão, divididas discricionariamente nos anos de chumbo entre o interesse do poder de fato (leia-se governos ditatoriais) e os interesses privados de empresas de comunicação da época.

Essa é uma realidade histórica que deve sempre ser exposta como pano de fundo de quase todos os movimentos midiáticos que têm divido estas nossas frágeis democracias latino-americanas. E não me venham com que um mea-culpa basta.

O caso do promotor Nisman é emblemático.

A verdade é que a mídia brasileira tem prestado um (des)serviço ao povo brasileiro na cobertura deste caso. Essa constatação não está relacionada a nenhuma ideologia. O que a mídia não conta é que a morte misteriosa – e inaceitável – deste funcionário da Justiça Argentina não modificou em nada o cenário judicial deste “culebron” policial.

A denúncia se tornou pública dois dias depois de sua morte. E basta um pouco de paciência + Google para descobrir que para acusar alguém só se precisa de um promotor e uma denúncia. No caso argentino, promotor não vai faltar. O problema aqui é a denúncia.

Nisman escreveu 300 páginas para fundamentar seu pedido de prisão contra Cristina, seu chanceler e um deputado governista. Neste escrito, um dos principais itens é um suposto pedido do governo argentino ao Irã para o cancelamento de alertas vermelhos da Interpol contra um grupo de cidadãos iranianos, acusados do ataque à embaixada de Israel, há 20 anos.

A própria Interpol já desmentiu oficialmente esta informação. Mas a denúncia (e as suspeitas contra Cristina) continuam aí, utilizadas por um novo fiscal e nas manchetes da obcecada e desinformada mídia brasileira.