A ressurreição de Alex para o futebol brasileiro

Atualizado em 2 de agosto de 2013 às 19:16

O craque de 35 anos está fazendo a diferença no Coritiba.

O tempo fez bem para ele
O tempo fez bem para ele

O  texto abaixo foi publicado originalmente no site fifa.com

Alex bateu a porta, deixou a sala do presidente do Fenerbahçe e não sabia o que fazer.

Foram três minutos que mudaram a vida do meia-atacante. Era para ser um pedido de auxílio em sua turbulenta relação com o técnico do time.

Na manhã daquele 1º de outubro, Aykut Kocaman havia determinado que o brasileiro deveria passar a treinar com o time de juniores do clube turco.

A conversa com o dirigente acabou rápida, sem negociação. Aziz Yildirim tomou o lado do técnico. Naquele momento, sem aviso nem sobreaviso, chegava ao fim um período de oito anos e meio no futebol turco.

A janela de transferências para o Brasil estava fechada, mas a ferida estava aberta. Torcedores do Fener foram à porta da casa de Alex em Istambul.

Pediram desculpas, pediram que ele ficasse, que ele voltasse. “Eu achava que seria melhor ficar em casa e esperar baixar a poeira. No mesmo dia, vi que não aconteceria. Isso, emocionalmente, mexia muito comigo. Resolvi que tinha que sair do país o mais breve possível. O mais breve que eu consegui foram 12 dias. Foi uma choradeira de 12 dias e 12 noites”, disse ao FIFA.com.

Este “enterro de 12 dias” de que fala o craque de 35 anos também definiu o futuro. Seu destino final seria o mesmo ponto de partida no futebol: o Coritiba.

Aos poucos, Alex e o Coritiba mostraram ser um par quase perfeito. De mãos dadas e em postura impecável, o primeiro passo foi logo o título do Campeonato Estadual, conquistado em maio, com dois gols de Alex.

Dois meses depois, o Coxa tem um dos melhores aproveitamentos do Campeonato Brasileiro.

Com seu nome apontado como um dos principais nomes da competição até agora, Alex conversou com o FIFA.com.

FIFA.com: Sua volta começou com uma saída inesperada do Fenerbahçe. O que você pensava logo que fechou a porta e saiu da sala do presidente do clube, Aziz Yildirim?
Alex:
 Quando fui conversar com o presidente, achei que ele fosse contemporizar, que ele fosse tentar provocar uma conversar entre nós três – ele, o técnico e eu.

Não aconteceu.

Ele disse que se eu quisesse continuar, teria de treinar com a equipe de juniores. Ou, se eu quisesse ir embora, que eu pegasse as minhas coisas e fosse. Naquele momento, já não concordando com a decisão do treinador, resolvi vir embora.

Quando você decidiu que o melhor seria voltar ao Brasil?
Foi muito torcedor para a frente da minha casa. Eu achava que seria melhor ficar em casa e esperar baixar a poeira. No mesmo dia, vi que não aconteceria.

Aquilo, emocionalmente, mexia muito comigo.

Resolvi que tinha que sair do país o mais breve possível. O mais breve que eu consegui foram 12 dias. Foi uma choradeira de 12 dias e 12 noites. E aí resolvi começar a pensar no que fazer quando voltasse para o Brasil.

Cheguei à conclusão de que a melhor coisa seria voltar para o meu clube de origem, onde tudo começou, que é o Coritiba.

Lembra de como foi seu primeiro dia de volta ao clube?
Foi emocionante. Reencontrei pessoas que me viram nascer dentro do clube.  Foi um momento de emoção, de volta ao tempo, de 20 anos atrás, então realmente foi emocionante.

Eu não esperava. Estava há muito tempo longe, não sabia como as coisas estavam funcionando.

Você jogou bastante no Brasil antes de ir para a Europa, mas foram oito anos na Turquia. Foi difícil adaptar-se tática e tecnicamente ao país agora?
Tive um privilégio porque cheguei em outubro e até janeiro, quando reiniciou a temporada, eu não podia jogar, mas estava treinando, observando, vendo como as coisas funcionavam.

É tudo diferente da Turquia. Esse período de adaptação me ajudou bastante a entender e absorver como as coisas funcionavam.

Até pessoalmente, no cotidiano. Viver em Istambul como jogador do Fenerbahçe e viver em Curitiba como jogador do Coritiba são situações bem distintas.

Foi bem difícil, não foi fácil. Mas como eu sou da cidade, como conhecia muitas pessoas, aos poucos voltei a ser 100% curitibano.

Qual é a parte mais complicada de todo esse processo?
A parte mais difícil foi fora do campo porque minha família estava muito enraizada em Istambul.

A gente imaginava até comprar alguma propriedade lá. Eu estava imaginando que poderia renovar meu contrato com o Fenerbahçe e por lá mesmo terminar minha carreira.

Eu vivia muito bem em Istambul. Minha mulher ama a cidade, ama o país. Meus filhos praticamente estão conhecendo o Brasil agora.

Viveram na Turquia durante toda a vida.  Tenho uma filha de 9, uma outra de 7 e um menino de 3. Para eles, é uma novidade viver aqui. O processo mais difícil foi para a família. Trazer para uma realidade nova, totalmente diferente do que a gente tinha na Turquia.

E como explicar o sucesso do Coritiba nesta temporada?

A gente tem um treinador moderno (Marquinhos Santos) e uma comissão técnica moderna, muito preocupada com os detalhes. É um time que tem trabalhado muito em cima de organização.

Sabemos que temos nossas limitações num contexto geral, e em cima dessas limitações nosso treinador tem trabalhado para montar um time organizado.

Quando você fala em detalhes, você fala de quê?
Detalhes mesmo, coisinhas pequenas. O que os outros times estão fazendo, como os outros times estão trabalhando, o processo de recuperação de jogadores mais velhos – porque a gente tem três ou quatro jogadores com mais de 30 anos.

É uma observação muito grande em cima dos adversários e do que a gente tem errado… são detalhes mesmo.

Até que ponto você está surpreso com o seu sucesso e o do clube?
Nada me surpreende porque eu acredito muito em trabalho, e este time tem trabalhado muito bem desde janeiro.

É claro que você tem uma série de fatores que podem ajudar. Você precisa ter uma pitada de sorte, mas no meu modo de ver o principal é trabalho.

O Brasil vem, aos poucos, perdendo a figura típica do meia, que é o seu estilo de jogo. Você se vê como uma espécie em extinção?
Não digo em extinção, mas diminuiu. Essa é uma questão de formação. Na base, os treinadores já começam a passar para os garotos que esse jogador não existe mais no futebol moderno, que esse jogador vai ter mais dificuldades no futebol profissional… Então, com esse conceito criado nas categorias de base, jogadores com as minhas características vão aparecer bem menos.

Você já afirmou uma vez que seu futebol perdeu muito pouco depois dos 30 anos. Hoje, com 35, você se vê um jogador melhor do que há cinco, dez anos?
Hoje, não. Mas eu com 29, 30, era muito melhor do que com 17, 18. Isso é inegável. Se eu for analisar o Alex do Coritiba, o que iniciou, era uma esperança de um menino que ia evoluir.

Hoje, sou um cara em fim de carreira, e acredito que tenha a evoluir. Quando eu falei de perda, foi perda física mesmo.

Muito se fala que um cara de 33, 34, 35, não tem a mesma força e velocidade. Como eu nunca tive isso, não posso perder uma coisa que nunca tive (risos).

Isso é normal, acontece, a idade chega para todo mundo. Um jogador de muita explosão com 22, 23 anos não vai ser o mesmo com 33, 34.

Ele vai ter que se refazer, imaginar uma forma nova de continuar jogando. No meu caso, não, porque eu jogo muito parecido desde que iniciei. Nesse sentido, acredito que tenha sido um ganho para mim.

Com o Coritiba vencendo e você jogando bem, seu nome volta a ser mencionado por jornalistas como merecedor de um lugar na Seleção. Você esperava?
Sinceramente, não. Sinceramente, não, mas eu vejo com alegria. Se as pessoas falam de você, é porque a coisa está indo bem.