A segunda vida do trapalhão Mussum na Internet

Atualizado em 2 de julho de 2014 às 9:38
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O ex-trapalhão Mussum morreu há duas décadas, mas nos últimos anos virou fenômeno nas redes sociais. Ganhou montagens em que toma o lugar de celebridades ou personagens de filmes. Há memes do “Steve Jobis”, “James Bondis”, “Sexto Sentidis”, “Pink Floydis”,  “Nirvanis”, “Harry Potis”, só para citar alguns. A maioria deles são bem inspirados e divertidos, graças ao carisma e ao rosto fotogênico do finado trapalhão. Não me espantarei se alguém me disser que viu montagens da própria sogra transformada em Mussum.

Não se sabe ao certo quando esses memes começaram, mas uma data serve de marco na atual idolatria ao Mumu da Mangueira. Em 29 de julho de 2009, usuários do Twitter homenagearam os 15 anos da sua morte com o #mussumday, cujo trend topic ficou entre os primeiros do dia naquela rede social.

O #mussumday foi uma homenagem autêntica e comprova as qualidades do artista, que ainda hoje provoca risadas com piadas de 30 anos atrás. Mas as imagens do Mussum compartilhadas pelas redes sociais e estampadas em camisetas da grife Reserva deixam no ar uma dúvida: onde termina a homenagem e começa o achincalhe? Seriam os memes do Mussum um caso de blackface?

Blackface significa pintar o rosto de preto para interpretar um personagem negro, geralmente em performances jocosas ou estereotipadas. Foi muito utilizada nos Estados Unidos no final do século XIX até as primeiras décadas do século XX por atores brancos que faziam papéis de negros em espetáculos de vaudeville e, mais tarde, no cinema. No primeiro filme falado da história, “O cantor de Jazz”, de 1927, há uma blackface clássica.

Inclusive atores negros eram obrigados a usar tinta preta e pintar os lábios de vermelho ou branco para acentuar traços caricaturais.

O termo também é utilizado para designar arquétipos como mammy (criada negra, gordinha, assexuada e dedicada) ou Uncle Tom (o negro gentil, subserviente, religioso e resignado), bem como ilustrações jocosas de negros. A era de ouro dos quadrinhos, entre 1930 e 1950, e as histórias de Tintim, do belga Hergé, produziram inúmeros exemplos de blackfaces.

Às vezes elas aparecem em festas à fantasia ou manifestações populares. Como agora, na Copa, quando torcedores da Alemanha pintaram o rosto de preto imitando ganenses. As fotos teriam sido tiradas durante a partida contra Gana e, segundo a Fifa, serão investigadas para saber se configuram racismo.

É difícil afirmar se os memes são uma homenagem sincera ou se foram criados para provocar risadas e nada mais. Eles têm milhões de autores, cada um com as suas intenções.

A única certeza é que Mussa foi um dos grandes do humor nacional. Seu estilo era espontâneo e qualquer esquete dele é mais engraçado que toda a obra do Porta dos Fundos. Apesar do viés preconceituoso dos Trapalhões e de quase todo humor brasileiro da época, ele não era um personagem arquetípico. Era sambista e beberrão, porém fazia tanto papel de desempregado quanto de homem de negócios e o personagem respondia com firmeza as agressões racistas. “Negão é seu passadis” era uma das respostas que costumava usar.

Resposta à altura de quem não ficaria contente em inspirar blackfaces.