A traição de Doria e o desespero de Alckmin em evitar a inevitável candidatura do pupilo em 2018. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 17 de maio de 2017 às 9:38
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Geraldo Alckmin está se vendo na posição constrangedora de tentar cortar as asas do pupilo João Doria — asas dadas, politicamente, por ele mesmo.

Alckmin bancou Doria. Nos últimos anos, despejou milhões em dinheiro público na editora fantasma do amigo, cujas revistas servem apenas para sua autopromoção.

Ao lançar Doria à prefeitura, um arrivista desprezado por cardeais como Alberto Goldman e FHC, Alckmin conseguiu tirar do jogo a turma de José Serra e Andrea Matarazzo.

O que não esperava era que o meninão crescesse na foto a ponto de virar a opção tucana para 2018. Cresceu em cima do mentor, desgastado na Lava Jato e com sua eterna dificuldade de vencer o ranço provinciano paulista.

Doria foi saindo do armário aos poucos, mas inexoravelmente. Em março, garantiu que terminaria o mandato na prefeitura.

Logo depois, ele mesmo já repercutia nas redes o factoide do deputado Heráclito Fortes (PSB-PI), que se declarava “impressionado” com a fama do gestor “até no interior do Piauí”. “Todo mundo quer saber quem é esse tal de Doria”, disse ele. Então tá.

Em entrevista a Kennedy Alencar, foi menos sutil. “Nada é irreversível, irrevogável, imutável, exceto a morte”, comentou sobre suas intenções.

O sonho acabou. Em Nova York, Doria foi o homenageado como “pessoa do ano” num jantar de gala organizado pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos.

Segundo matéria da Folha assinada também por um repórter que “viajou a convite do Lide”, Nizan Guanaes — sempre ele — leu uma carta de FHC e chamou Doria de “o homem dos anos que estão por vir”.

Doria fez um discurso explícito: “Será candidato do PSDB aquele que tiver melhor posição perante a opinião pública. Aquele que representa o interesse popular. Para ser competitivo, para vencer as eleições, vencer o PT, vencer o Lula”.

Tentando correr atrás do prejuízo, Alckmin, que empatou tecnicamente com Dilma na última pesquisa da CNT, já acusou o movimento dorianista de “ansiedade” e apareceu no Estadão defendendo prévias no PSDB.

Com os botões de seu teco teco apitando em queda livre, agora liberou seus aliados para atacar a “pressa” do menino. É tarde demais.

Consummatum est.

Não que exista isso entre políticos, mas se você quer uma demonstração do caráter de Doria e da importância que ele confere à fidelidade, basta lembrar da velocidade com que apagou os vestígios de sua amizade imortal com Eike Batista e Sérgio Cabral nas redes sociais.

No caso do tio Geraldo, apenas foi mais rápido. É uma espécie de prêmio de consolação.