A última guerra de Temer. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 15 de outubro de 2016 às 10:44
Temer contra a internet
Temer contra a internet

Só acredito porque vi o vídeo. Se tivesse lido, duvidaria.

Juro.

Temer, num pronunciamento, disse que é “extraordinário” o poder das redes sociais. Até, aí, tudo bem, descontada a banalidade suprema da frase, indesculpável mesmo para um senhor de 76 anos.

O complemento é que foi incrível: “Vou combatê-las”, disse num tom de cruzado da Idade Média.

Combater as redes sociais?

Imaginemos, para rir um pouco, Temer declarando guerra simultaneamente ao Facebook, ao Twitter, ao Instagram.

A toda a internet, enfim.

Ele lembra, aí, um vendedor de papel da série The Office que lamenta as baixas vendas da empresa, mas mostra esperança no futuro: “As coisas vão melhorar quando essa tal de internet acabar.”

Temer poderia dizer, se fosse mais lúcido. “Temos que aprender a usar melhor as redes sociais. Estamos muito atrasados nisso. E este é o futuro.”

Mas eis um homem que não parece saber sequer as perguntas, que dirá as respostas.

Ironicamente, mas de forma completamente previsível, o vídeo viralizou nas redes sociais.

Existe uma leitura bem menos cômica da declaração de Temer. Obliquamente, ele estaria se referindo, na verdade, às críticas que recebe na internet. Nas redes sociais, ele não tem como escapar das vaias típicas de um homem impopular.

Neste caso, podemos entrar no pantanoso terreno da censura. Parece claro que Temer preferiria um mundo no qual as informações e as opiniões fossem controladas por grandes empresas de mídia tradicional.

Neste universo, uma conversa com o dono do jornal, ou a promessa de publicidade federal, pode operar milagres.

Seja como for, ao declarar guerra contra as redes sociais, mais uma vez Temer demonstra o descomunal tamanho de seu atraso mental — e o medo pânico que tem dos apupos.