A violência da PM em SP é um legado do ministro Alexandre de Moraes. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 5 de setembro de 2016 às 15:24

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A pancadaria desfechada pela PM num protesto que caminhava para um final pacífico tem vários paus mandados e um grande mentor: Alexandre de Moraes, ex-secretário de São Paulo, atual ministro da Justiça.

Não bastassem as bombas e a violência no Largo da Batata, 26 jovens foram presos antes da manifestação e impedidos de se comunicar com advogados e familiares. Foram acusados de transportar pedras nas mochilas, entre outras coisas, o que negam.

A polícia alega que tinham “máscaras, um celular roubado e diversos objetos utilizados em atos de vandalismo”. Fora indiciados por associação criminosa.

Moraes acumulou uma vasta experiência espancando estudantes. Já com Temer, estrelou uma coletiva em que anunciou a prisão de dez “terroristas”, igualmente em condições estranhas.

Os soldados que ajudou a forjar continuam não sabendo lidar com quem não esteja pregando a intervenção militar e tirando selfies com eles e com seus pastores alemães.

Estão jogando para uma torcida que diminui. Em janeiro, após diversas cenas de brutalidade inesquecíveis, Moraes disse só “recebeu elogios da população” e Alckmin considerou “ótima a alteração da estratégia” para conter os “vândalos”.

Mais uma vez, a questão está sendo resolvida através da ação de homens especializados em inspirar o medo.

Moraes e Temer substituem autoridade por poder. O sociólogo americano Robert Nisbet fez uma distinção entre os conceitos. “A autoridade pressupõe relacionamento, lealdade e é baseada, em última análise, no consentimento de quem está sob ela”, escreveu.

“O poder, por outro lado, é externo e baseado na força. Existe onde as alianças se enfraqueceram ou nunca nasceram. O poder surge quando a autoridade desaparece”. Este governo não tem autoridade e nem legitimidade.

A PM mentiu: “Em manifestação inicialmente pacífica, vândalos atuam e obrigam PM a intervir com uso moderado da força / munição química”. O MTST pediu para os black blocs retiraram as máscaras.

Num rasgo de desumanidade absurda e de certeza de impunidade, o tenente-coronel Henrique Motta usou seu perfil no Facebook para debochar da estudante Deborah Fabri, que perdeu a visão no olho esquerda por causa de estilhaços. “Quem planta rabanete, colhe rabanete”, disparou.

Segundo o Estadão, Michel Temer externou a preocupação com as manifestações marcadas para 7 de setembro, depois de falar que eram “grupos mínimos”, de “40, 50, 100 pessoas, nada mais do que isso”.

O domingo serviu para desmoralizar as tentativas de desmoralização. A polícia vai continuar arrepiando com os manifestantes. Mas, como já falou alguém, o “Fora Temer” é como massa de bolo: quanto mais bate, mais cresce.