Agora é a vez de Cunha: FHC transformou a renúncia na panaceia do Brasil. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 24 de novembro de 2015 às 15:33
"Eu sei lá, ué"
“Eu sei lá, ué”

 

FHC é o retrato de uma oposição sem rumo, a ilustração perfeita da expressão segundo a qual se você não sabe para onde está indo, nemhum vento ajuda.

Com um microfone eternamente à disposição para reverberar qualquer coisa, é inevitável que ele seja vítima de sua própria tagarelice. Na segunda (23), Fernando Henrique defendeu a renúncia de Eduardo Cunha. “Se tivesse um pouco mais de visão de Brasil, ele renunciaria”, afirmou. Se isso não ocorrer, ele “vai ter de ser renunciado”.

Prosseguiu: “A minha posição é clara. Eu já disse há muito tempo que eu achava isso. O presidente da Câmara não tem mais condições morais e nem políticas de continuar exercendo o cargo”.

As tais condições morais são relativas, ele sabe, principalmente levando-se em conta que 1) moral de quem; 2) os crimes do presidente da Câmara são muito antigos; e 3) quem o sustentou até o limite da irresponsabilidade foi o PSDB, especialmente nas figuras de Aécio e de seu fiel escudeiro Carlos Sampaio.

A situação ganha em ridículo quando se leva em conta que há apenas 13 dias o mesmo FHC afirmou que a saída do presidente da Câmara deveria acontecer apenas se comprovado que ele “recebeu o dinheiro das contas na Suíça”.

“O afastamento se dá depois que é culpado, antes não. Apenas abre a investigação”, declarou. Ora, nas últimas duas semanas não houve nenhum fato novo sobre Cunha.

A situação que se complicou, na verdade, é a do partido do ex-presidente, que se vê obrigado a tentar se livrar da maneira mais abjeta do velho aliado Eduardo Cunha.

A fórmula da renúncia já havia usada por FHC com relação a Dilma. No mês passado, falou que o Brasil “vai mal porque está sem rumo” e a solução era ela renunciar “com grandeza”. Simples assim, como se fosse uma extração de dente.

Não resolve o problema dos brasileiros, mas o dele e de seus colegas. As férias deveriam funcionar como uma oportunidade para essa oposição pensar num projeto propositivo, que não passasse por atalhos golpistas. Fernando Henrique faria um favor — a si próprio, sobretudo — se parasse de pregar soluções mágicas, tentando encaixar a realidade em seu quadrado.

Papaguear menos não lhe faria mal, também.