Ainda Berlusconi

Atualizado em 13 de junho de 2013 às 15:14
Berlusconi

De Roma

Berlusconi provoca polêmica até no Diário, como vi em meu último artigo.

Vou tentar decifrá-lo, mais uma vez.

Ele incomoda muito mais mulheres do que homens. E muito mais os estrangeiros do que os próprios italianos. Dias atrás, houve uma manifestação de mulheres contra ele. Em Sidnei, na Austrália. Numa manifestação de ciclistas pelados em Melbourne, também na Austrália, Berlusconi foi atacado.

Os estrangeiros o vêem com os olhos de fora. Um político inglês estaria incinerado se tivesse uma fração das histórias de sexo de Berlusconi. Mas, para o bem ou para o mal, os italianos não são os ingleses. Pensam diferente.

Para os italianos, aventuras sexuais masculinas não geram grandes crises políticas.

Berlusconi é um político sem ideologia clara, ao contrário de Mussolini, um fascista repleto de leituras. Um bufão ignorante, num olhar mais crítico. Cabelo implantado, plásticas no rosto, todo o repertório do homem sem conteúdo. Você simplesmente não consegue enxergar Berlusconi com um livro. Mas, na bagunça política italiana, ele conseguiu projetar a imagem de um homem que faz, num universo de gente que grita, discute, mexe os braços e afinal não sabe para onde ir e por isso não faz nada. Acresce que não existe alternativa relevante.

Dizer que ele está no poder graças a suas empresas de mídia é uma simplificação. Em termos relativos, Roberto Marinho tinha muito mais mídia que Berlusconi. Ele se elegeria presidente? Governador? Prefeito? Vereador? Presidente do Flamengo? Murdoch tem um negócio várias vezes maior que o de Berlusconi, e você não consegue imaginá-lo eleito para nada.

A sociedade desconfia de media mogulls, em vez de cultuá-los.

Querer entender Berlusconi sem entender as peculiaridades da Itália e dos italianos é um exercício penoso, frustrante e inútil.